Ronaldo não tem absolutamente nada a ganhar caso venha a ser, de fato, o novo presidente do Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014. O anúncio, que pode ocorrer até o final desta semana, colocará o maior goleador de Mundiais num enorme dilema.
Não, leitor, não pense com a cabeça de quem é apenas uma formiga no meio de um oceano como todos nós. Ronaldo é Ronaldo. Talvez represente a maior marca do mercado esportivo brasileiro. Sem dúvida representa o maior jogador brasileiro em Copas depois de Pelé. Foi a três finais do torneio, é o maior goleador do maior evento do futebol mundial, é um ícone da geração que hoje vive o sonho de termos um Mundial no Brasil.
Ronaldo é hoje, também, um executivo que prova ser extremamente competente. O sucesso de sua empreitada, com a geração de um faturamento recorde em menos de um ano de atuação da 9ine, mostra o quanto o Fenômeno não precisa do cargo de presidente do COL para se promover, para ganhar mais dinheiro ou ampliar a sua rede de contatos.
Aliás, dinheiro não é a questão. Assim como ocorria dentro de campo, em que o que mais lhe motivava era o desafio de fazer o negócio acontecer, fora dele a atuação do executivo Ronaldo lembra muito a do centroavante rompedor e habilidoso que ele sempre foi.
Só que agora ele vai entrar no meio de uma polêmica que envolve denúncias de corrupção, evidências de processos minimamente suspeitos na condução de negócios e mais um monte de outras coisas que um cara com a imagem dele só tem a perder caso responda positivamente ao convite feito por Ricardo Teixera.
Também pelo fato de a proposta vir de quem vem. O manda-chuva do futebol nacional há quase 25 anos e que, hoje, ironicamente vive um de seus períodos de maiores baixas de imagem desde as CPIs que quase levaram a sua derrocada no início do milênio.
Joseph Blatter e Ricardo Teixeira não se bicam mais, e a Copa virou um pepinaço a dois anos de sua realização. Esqueça o papo de que Teixeira sairá em 2015 para galgar passos mais altos na Fifa. Sua história na entidade acabou junto com o contragolpe promovido por Blatter para frear o golpe que vinha sendo articulado por Bin Hamman e seus dólares qataris. Teixeira, como bem ligou os pontos a revista Piauí no famoso perfil que traçou recentemente do presidente da CBF, estava do lado do chefão do futebol no Qatar. Assim como estavam Jack Warner (Concacaf), Julio Grondona (AFA) e Nicolás Leoz (Conmebol). Warner e Hamman já foram sacados da Fifa. Não é de se duvidar que o trio sul-americano tenha o mesmo fim, talvez até o final deste ano.
Sendo assim, a Copa no Brasil precisa urgentemente de um pacificador e, também, de um aglutinador. Ronaldo terá de ter a habilidade de um exímio meio-campista para unir todas as pontas e fazer com que paremos de ter um racha na organização e execução do projeto Copa do Mundo no Brasil. Não dá mais para que governo e Fifa fiquem de um lado, e o COL do outro.
E aí está o maior desafio para o Fenômeno. Se aceitar o convite, terá de segurar a bucha de uma Copa marcada pelo racha entre COL e Fifa, algo nunca antes visto na história do Mundial. Além disso, terá de dar a cara a tapa para ser aquele que vai fazer o evento, de fato, “pegar” no Brasil. O governo já começou a tentar fazer isso com Pelé, e agora Ronaldo poderia ser mais uma figura fundamental para ajudar no processo de engajamento da população com o torneio.
Mas, por fim, entra outro ponto sobre a imagem de Ronaldo caso ele venha a dizer sim ao convite para presidir o COL. Como lidar com o evidente questionamento dos conflitos de interesse que podem surgir? Ronaldo, pessoa física consagrada que é, tem contrato com a Ab-Inbev, patrocinadora da Copa. Tem outro também com a Claro, que é concorrente da Oi, que por sua vez patrocina o Mundial. Sua agência, a 9ine, tem contratos diversos com empresas e atletas que também estão relacionados ao evento.
A Copa de 2014 será no Brasil, não há mais como acabar com esse processo. O convite a Ronaldo coloca-o mais ou menos como quando tinha de chutar para marcar o gol. Espera o goleiro cair, fuzila a bola no gol ou dá um drible a mais? Poucos dominaram essa técnica como o Fenômeno. Agora, porém, não dá para prever qual será o resultado de sua ação.
Se conseguir ter sucesso e não ligar sua imagem ao que há de pior hoje no futebol, Ronaldo pode vir a marcar o maior golaço dentre os 15 que já fez para o Brasil numa Copa do Mundo.