domingo, 31 de julho de 2011

Brazil: The world's next economic superpower?


July 31, 2011 7:36 PM
(CBS News)  
This story was first published Dec. 12, 2010. It was updated on June 23, 2011.
For decades, the joke about Brazil has been that it's the country of the future -- and always will be. Despite enormous natural resources, it has long displayed an uncanny ability to squander its vast potential. Now it's beginning to look like Brazil might have the last laugh.
While most of the world is consumed with debt and unemployment, Brazil is trying to figure out how to manage an economic boom. As we first reported last December, it was the last country to enter the Great Recession, the first to leave it, and is now poised to overtake France and Britain as the world's fifth largest economy.
With the World Cup and the Olympics on their way, Brazil is about to make its grand entrance on the global stage.
When most people think of Brazil, they think of its passion and excellence in soccer -- not of skyscrapers in Sao Paulo, the financial hub of a fledgling economic superpower. They think of the pulsating beat of the samba and Carnival -- not commodities, or the world's largest cattle industry.
They see the beaches of Ipanema and Copacabana and breathtaking vistas -- not Brazilian tycoons like Eike Batista, who has the best view in Rio, not to mention a net worth of $27 billion.
Kroft sat down with the billionaire and asked him, "How do most Americans see Brazil?"
Batista replied, "They think Buenos Aires is the capital of Brazil, so they mix us with, you know, other countries around South America."
"The most powerful country in South America?" Kroft said.
Batista said, "GDP-wise, we are bigger than all the other countries together. And you know, in the last 16 years, Brazil has put its act together. This is it. Hello, time for Americans to wake up."
With most of the world's economies stagnant, Brazil's grew at 7 percent last year, three times faster than America. It is a huge country, slightly larger than the continental U.S., with vast expanses of arable farmland, an abundance of natural resources, and 14 percent of the world's fresh water.
Eighty percent of its electricity comes from hydropower, it has the most sophisticated bio fuels industry in the world, and for its size, the world's greenest economy. Brazil is already the largest producer of iron ore in the world, and the world's leading exporter of beef, chicken, orange juice, sugar, coffee and tobacco - much of it bound for China, which has replaced the U.S. as Brazil's leading trade partner.
Batista told Kroft Brazil has the size to match the China's appetite.
Kroft said, "You have everything."
Batista answered, "It's a big dragon on, on the other side."
"You have everything they need," Kroft said.
"Yeah," Batista responded. "You need a Brazil to basically fulfill the Chinese needs."
Batista, who has interests in mining, transportation, oil and gas, is building a huge super-port complex north of Rio with Chinese investment. The complex will accommodate the world's largest tankers and speed delivery of iron ore and other resources to Asia.
But it's not just commodities that are driving the Brazilian boom. The country has a substantial manufacturing base and a large auto industry. Aviation giant Embraer is the world's third-largest aircraft manufacturer, behind Boeing and Airbus and a main supplier of regional jets to the U.S. market.
But Batista says the one thing that Brazil could use more of is skilled labor.
"We have to create more engineers," he told Kroft. "In my oil company, I'm importing Americans to weld our platforms, just to give you an, an idea."
"To weld the platforms?" Kroft asked.
"Yes," Batista said. "There's a lack of welders. We are walking into a phase of almost full employment. Already we have created this year 1.5 million jobs. It's unbelievable."
Produced by Draggan Mihailovich 

sábado, 30 de julho de 2011

Os senhores da bola


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Negócios

                                                                          30/07/11

É ingenuidade (ou má-fé) associar a Fifa apenas a um grupo de cartolas inescrupulosos — o que a define, hoje, é a dificuldade de conciliar o cotidiano de uma entidade bilionária e muito bem-sucedida com uma estrutura executiva já arcaica

Álvaro Oppermann
Sede da Fifa em Zurique, Suíça o seleto clube de lordes europeus agora cuida de um negócio de interesses globais colado a incontáveis disputas comerciais
Sede da Fifa em Zurique, Suíça o seleto clube de lordes europeus agora cuida de um negócio de interesses globais colado a incontáveis disputas comerciais (Sebastian Derungs / AFP)
Nos subterrâneos da Fifa, os telefones celulares não funcionam. os cartolas reclamam, à boca pequena, de claustrofobia nas salas de reuniões do comitê executivo instaladas no subsolo do imenso edifício em Zurique, na Suíça. o desconforto, misto de dificuldade de comunicação com sensação de falta de ar, é metáfora adequada da entidade que manda no futebol mundial. Para joseph Blatter, presidente da Fifa desde 1998, as diatribes dos inimigos contra o prédio são mera provocação. Blatter vê a construção, colada a um bosque, numa bucólica região da cidade, como símbolo de um grupo pouco modesto. A um custo de 184 milhões de dólares, a sede abriga os 310 funcionários da instituição. o projeto arrojado — feito com muito vidro, alumínio, tábuas de nogueira americana e xisto brasileiro — respeita a rigorosa legislação ambiental da Suíça. Para que não se ferisse a mata em torno, dois terços do lugar, cinco pisos, foram erguidos debaixo da terra. há pouca iluminação. “A luz deve irradiar das pessoas reunidas”, diz Blatter, de 75 anos, homem acostumado a frases de efeito.

Luz é o que se pede, nos últimos tempos, à Fifa, atolada em denúncias de compra de votos e malversação de fundos. Nem sempre há provas nas acusações, e algumas vezes quem aponta o dedo também tem culpa no cartório. O resultado: muita desconfiança, uma zona cinzenta que os faz impopulares no esporte mais popular do mundo. Mas convém olhar os dirigentes não como bandidos, atávicos gatunos, e sim como executivos de um negócio que cresceu tanto, mas tanto, que tudo o que o cerca movimenta bilhões de dólares e quantidade igual de disputas comerciais. São os custos do crescimento de uma organização que reúne 208 países (a oNu tem 192) e faturou mais de 2 bilhões de dólares apenas com os direitos de transmissão da Copa de 2010.

A realidade era muito diferente em 1904, quando nasceu a Fédération Internationale de Football Association, em Paris. o ato de fundação contou com representantes da França, Espanha, Bélgica, Dinamarca, Suíça, Suécia e Holanda. o francês Robert Guérin foi aclamado presidente. Como explicar a ausência dos ingleses na listagem? os fundadores do chamado esporte bretão tinham muito orgulho da sua FA — a Football Association —, liga do futebol inglês, criada em 1863. desdenharam da ideia de uma nanica Fifa. Guérin tentou em vão dissuadir o presidente da FA, o lorde Arthur Kinnaird.

Essa divergência inicial acabou fomentando uma rivalidade histórica entre franceses e britânicos na instituição. a FA aderiu relutantemente à Fifa em 1905. Em 1928, irritados com o então presidente da instituição, o francês Jules Rimet, que aceitava ligas semiprofissionais na entidade, os ingleses abandonaram a Fifa, para a ela só retornar em 1946. na presidência do britânico Stanley Rous, entre 1961 e 1974, os franceses deram o troco. foi na histórica disputa eleitoral entre Rous e João Havelange, em 1974, na qual os franceses apoiaram discreta, mas decisivamente, o brasileiro. a candidatura de Havelange vinha sendo tramada desde 1962, como confidenciou a Veja na época o dirigente Paulo Costa, da Confederação Brasileira de Desportos (CBD).

Os primórdios da federação dão ideia de quão incipiente era o mundo da cartolagem internacional. na primeira Copa do mundo, em 1930, no Uruguai, o presidente da Fifa, Jules Rimet, enviou convites de participação a todos os 46 países filiados (não havia eliminatórias). Acreditava, otimista, que metade atenderia ao convite. na data-limite das inscrições, nenhum dos 24 representantes da Europa havia se manifestado. Depois de muita insistência, Rimet conseguiu a adesão da França, Bélgica, Iugoslávia e Romênia.

Stanley Rous conduziu a Fifa como um seleto clube de lordes europeus, no qual os sul-americanos, apesar da relevância futebolística, eram tratados como cidadãos de segunda classe. Com as nações da África e da Ásia, reinava o descaso. Rous hesitava em abrir vaga automática para as seleções africanas participarem da Copa.

Um olhar mais detalhado sobre a gestão de Rous é a comprovação de que, se as denúncias atuais são corrosivas, antes não se vivia um ingênuo conto de fadas. o inglês não escondia seus interesses. na Copa da Inglaterra, de 1966, os jogos da seleção brasileira contra Portugal, Hungria e Bulgária tiveram como juiz e bandeirinha sete britânicos e um alemão. Pelé foi impiedosamente caçado em campo, sob o olhar complacente da arbitragem, e saiu machucado da Copa. meses mais tarde, numa solenidade em Zurique, Havelange, então presidente da CBD, encontrou Rous. O inglês estendeu a mão, mas Havelange recusou-se a cumprimentá-lo. “O que você tem?”, perguntou Rous. “Faça um exame de consciência, você tem a resposta”, retrucou o brasileiro.

Era o início, naquele simbólico desentendimento, da segunda fase, a idade adulta, da história da Fifa. em junho de 1974, depois de uma tumultuada votação em dois turnos e debates acalorados, Havelange bateu Rous na disputa à presidência da organização. foi uma vitória apertada, 68 votos a 52, ganha com os votos dos representantes africanos e asiáticos. o brasileiro, hoje com 95 anos, cujo nome de batismo é Jean-Marie Faustin Goedefroid de Havelange, filho de um engenheiro belga que fez fortuna com o comércio de armas no Rio de janeiro, tinha planos ambiciosos para a Fifa. Entre as promessas de campanha estavam o aumento do número de seleções na Copa, de dezesseis para 24 (hoje são 32), ampliando nela a participação de países não europeus, e a organização de um campeonato de juniores, realizado fora da Europa.

Outra meta referia-se ao choque de gestão na empoeirada entidade. Empresário de sucesso no Brasil, dono da Viação Cometa, Havelange encontrou a entidade com o cofre quase vazio ao assumir. Ela funcionava no térreo de um velho edifício em Zurique. o staff limitava- se a uma recepcionista e um secretário- geral, que morava no andar de cima do prédio, junto à família, a um gato e dois cachorros.

Para reinventar a Fifa e o mundo do esporte — ou “sport business”, na definição de Havelange —, o presidente da Fifa encontrou o parceiro ideal em Horst Dassler, presidente da Adidas na França, filho do fundador da marca esportiva, Adolf “Adi” Dassler. A Adidas, apesar do poderio, não tinha dinheiro para injetar na Fifa. Para cobrir os ambiciosos planos de Havelange, porém, a solução encontrada para fazer caixa acabou mudando para sempre o negócio do futebol. A proposta de Dassler foi montar uma estrutura que servisse de ponte entre os organizadores de eventos esportivos e as companhias anunciantes, transformando a Copa do Mundo num pacote publicitário atrativo. em 1975, a Fifa vendeu seu grande produto ao maior anunciante planetário, um fabricante de refrigerantes. 

No início, a Fifa teve dificuldade em lucrar com os direitos de transmissão dos jogos da Copa, hoje a maior fonte de renda. É compreensível que em 1954 a licença fosse dada de graça às pouquíssimas redes de TV existentes na Europa. Os direitos de transmissão de 1990, 1994 e 1998 foram vendidos por 92 milhões de dólares. Foi um negócio ruim, feito no momento em que a audiência global estava a ponto de explodir — hoje, os direitos são negociados a valores 25 vezes mais altos. “o ano de 1998 marcou a nossa última Copa pobre”, disse Joseph Blatter em maio passado à revista britânica The Economist. desde então, o nome do jogou mudou: deixou de ser futebol para virar dinheiro. “Quando começa uma Copa, já não me interesso, porque aí se trata somente de futebol”, diz o jornalista Andrew Jennings, autor do livro Jogo Sujo, acusador das entranhas da Fifa, persona non grata a quem é negada a credencial de jornalista para acompanhar o Mundial. “Tudo bem, porque a graça toda está no que acontece antes e depois do torneio.”

A sede de Zurique, nos intervalos entre as Copas, é o palco de todas as negociações. A parte administrativa da Fifa ocupa os escritórios envidraçados dos pisos superiores do prédio. Na entidade, a batuta administrativa é do secretário-geral Jérôme Valcke, executivo francês, de 51 anos, que entrou na Fifa em 2003. Todos os departamentos da organização respondem diretamente a ele — o jurídico, o setor de competições internacionais, de relação com as federações, finanças, marketing e televisão. o marketing (área de expertise de Valcke) tem se tornado cada vez mais estratégico à vida financeira da Fifa. Com 47 profissionais, responde pelas seis parcerias comerciais da federação. Há também um seminal programa de licenciamento da marca Fifa, que é usada no famoso videogame Fifa ou até em maletas de viagem de grifes de luxo. Na governança do futebol, os braços da instituição estendem-se além de Zurique. em maio último, a entidade firmou com a Interpol a criação de uma “Ala de Treinamento Anticorrupção da Fifa” dentro do complexo global do órgão de polícia internacional em Singapura. o foco: o combate às apostas ilegais que assolam a Ásia.

O sucesso econômico e a visibilidade, a quase onipresença, cobram um preço, e ele é alto. A Fifa vive o dilema de ser uma empresa globalizada, financeiramente bem-sucedida, mas que funciona sob uma estrutura já arcaica, em muitos sentidos. “Se a Fifa fosse um país, a ONU estaria fazendo pressão para mudar o seu regime de governo”, comentou recentemente o jornalQatar Gulf Times, em tom divertido. o comitê executivo da entidade, por exemplo, concentraria poder demais. Responsável pela escolha dos países-sede da Copa do Mundo da Fifa, sua estrutura é alvo de críticas. Composta de 24 membros saídos das associações nacionais de futebol, e encabeçada pelo presidente Joseph Blatter — que tem o voto de minerva nas reuniões —, seria frágil e suscetível à pressão de grupos de interesse, como no escândalo recente das supostas propinas que teriam influenciado a escolha da Rússia como sede da Copa de 2018. ele culminou no afastamento e na posterior renúncia de Jack Warner, da Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe (Concacaf), o membro mais antigo do comitê. Tais críticas não vêm de hoje. em 1983, o ex-secretário de estado dos EUA Henry Kissinger queixou-se de que, ao lidar com o comitê da Fifa, sentiu saudade da mediação de paz entre palestinos e israelenses, nos anos 70. Kissinger representou os EUA na disputa para sediar a Copa de 1986, corrida vencida pelo México, e escandalizou-se com a falta de transparência do processo — ou talvez seja reclamação de mau perdedor.

Segundo o historiador inglês Alan Tomlinson, coautor do livro Fifa and the Contest for World Football (Fifa e a competição pelo futebol mundial, de 1998, inédito em português), essa arapuca jurídica foi montada, inadvertidamente, por Stanley Rous, nos anos 60. Até então, a escolha do país-sede ficava a cargo do congresso da Fifa, órgão da entidade no qual cada federação nacional tem direito a um voto. o cartola acreditava que tal decisão ameaçava provocar “fissuras na amizade” entre as nações. Por 55 votos a 7, o congresso autorizou a mudança da decisão, que passou a ser da alçada do comitê executivo. Em 1966, o pequeno comitê da Fifa, presidido por Rous e reunido para um chá da tarde no hotel Royal Garden, em Londres, confirmou a Alemanha Ocidental (1974), a Argentina (1978) e a Espanha (1982) como sedes do Mundial de futebol. Sem polêmicas.

Rous via a Fifa como um clube de cavalheiros — e talvez ela assim fosse, em certo sentido, em 1966. Porém, no século XXI, tal visão é anacrônica, incompatível com o escopo atual da instituição e com os bilionários interesses em jogo. “É o clássico problema de governança”, disse a Veja o economista inglês Stefan Szymanski, da Cass Business School, de Londres, especialista em gestão esportiva. O sistema de escolha dos membros — pelas respectivas associações nacionais e confederações — tenderia ao conflito de interesses. “Não existe isenção necessária nas decisões executivas”, afirma Szymanski. A Fifa vive em uma encruzilhada de sua história, e é nesse cenário que seus dirigentes desembarcarão no Rio de Janeiro para o sorteio das eliminatórias.

Maracanã, um colosso improvisado


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História

                                                                       30/07/11

Em ritmo de “vai da valsa”, como dizia uma gíria da época, o maior estádio do mundo foi erguido em 22 meses. E não estava pronto quando a Copa começou

Sérgio Rodrigues
Em 24 de junho de 1950, na estreia do Brasil contra o México (vitória de 4 a 0), na primeira partida da Copa, andaimes ainda sustentavam a cobertura das arquibancadas e torcedores atravessavam obstáculos de tijolo e madeira para entrar no “maior do mundo”. Quase um mês depois, na fatídica final contra o Uruguai, o acabamento melhorara, mas os retoques que dariam cara definitiva ao projeto inicial só ocorreram na década de 60
  Em 24 de junho de 1950, na estreia do Brasil contra o México (vitória de 4 a 0), na primeira partida da Copa, andaimes ainda sustentavam a cobertura das arquibancadas e torcedores atravessavam obstáculos de tijolo e madeira para entrar no “maior do mundo”. Quase um mês depois, na fatídica final contra o Uruguai, o acabamento melhorara, mas os retoques que dariam cara definitiva ao projeto inicial só ocorreram na década de 60 (Acervo Herculno Gomes/SUDERJ)
O estádio Municipal do Rio, apelidado pela imprensa ufanista de “colosso do Derby”, mal começava a herdar da avenida onde se erguia o nome de Maracanã quando foi inaugurado pelo presidente Eurico Dutra, no dia 16 de junho de 1950. Havia andaimes de pé, grades por fixar, montes de cimento e brita pelos cantos. A equipe de 1.500 operários que tinham trabalhado na obra nos últimos 22 meses, reforçada por outro tanto na reta final, ainda virou noites até a primeira partida da Copa do Mundo, oito dias depois, quando uma multidão de 200.000 pessoas superlotou um estádio projetado para 155.000 e viu o Brasil golear o México por 4 a 0. Nem assim deu tempo. Na estreia ainda havia muito por fazer — os retoques que dariam forma definitiva ao projeto original só aconteceram na década de 60, mais ou menos na época em que Pelé marcou contra o Fluminense seu famoso “gol de placa” —, mas, para espanto de muita gente, o Maracanã não caiu.
 A imprensa não deu muita bola para o que havia de inacabado no estádio. O que estava pronto chamava mais atenção, num festival de números vertiginosos: gastos de 200 milhões de cruzeiros, 195.600 metros quadrados de área, 10.500 toneladas de ferro, 193.000 quilos de pregos, 993.000 tijolos, noventa estandes de venda de cigarros, 58 bares, 45 bonbonnières, cinquenta “cadeiras de deputados”. Pouco mais de um ano e meio antes, nem uma estaca se erguia no terreno alagadiço pisado por tantas patas de cavalo do velho Derby Club, que o Jockey Club, seu proprietário, cedera à prefeitura em troca de lotes à margem da lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul carioca.
 
O estádio de dimensões “ciclópicas” — adjetivo caro ao parnasiano jornalismo da época, que chamava os jogadores da seleção de “scratchmen” — foi saudado como “uma prova da capacidade realizadora do brasileiro”, nas palavras do Jornal dos Sports, que acertou ao prever que ele se tornaria um novo “cartão de visita” da cidade, ao lado do Pão de Açúcar e do Corcovado. Foi menos feliz, porém, ao vaticinar uma glória inédita: “e neste estádio haveremos de ser campeões do mundo!”.
 
Até então, o Rio de Janeiro tinha no estádio de São Januário, construído em 1927 para 40 000 pessoas, um exemplo de grandiosidade. Os 60.000 lugares do Pacaembu, inaugurado em São Paulo em 1940, ainda faziam cair queixos. Erguer em prazo recorde o maior estádio do mundo, onde caberiam três Pacaembus, tinha valido ao prefeito biônico Mendes de Morais a fama de maluco  Como ele mesmo lembraria anos depois, entre os céticos diante da empreitada estavam o próprio presidente da Fifa, Jules Rimet, e o político americano Nelson Rockefeller, ex-cabeça da política de boa vizinhança de Franklin Roosevelt e futuro vice-presidente dos EUA. Mas o inimigo mais temível do prefeito era doméstico: um jovem vereador chamado Carlos Lacerda.
 
A ideia do Maracanã tinha sido incorporada à paisagem mental da população carioca pela campanha lançada em 1947 pelo jornalista Mário Filho, em seu Jornal dos Sports — o que lhe valeria a honra póstuma de dar nome ao estádio. O recém-empossado Mendes de Morais aderiu com entusiasmo, mas o projeto dividiu a Câmara Municipal. O compositor e radialista Ari Barroso, vereador pela UDN, aliou-se ao PCB para apoiá-lo. Muitos não queriam estádio nenhum. E a turma de Lacerda, udenista como Ari, gostaria de ver o “colosso” plantado em Jacarepaguá.
 
Orador temido, ensaiando para se tornar poucos anos mais tarde o maior pesadelo de Getúlio Vargas, Lacerda esgrimia tiradas como esta: “eu represento a vontade de 37.000 eleitores. O prefeito, apenas a copa e a cozinha do executivo federal”. O astuto Ari contra-atacou fantasiando focos de malária em Jacarepaguá e encomendando uma pesquisa ao Ibope, algo pouco comum na época, para dar números à paixão carioca pelo Maracanã: a maioria da população era a favor. A aprovação levou meses, e muitos outros seriam necessários para que três comissões escolhessem o melhor projeto — de autoria de um buquê de arquitetos, com o de Oscar Niemeyer amargando a derrota — e um edital definisse as seis construtoras que trabalhariam em conjunto. Em maio de 1948, foi criada a Administração dos estádios Municipais, órgão encarregado das obras. O lançamento da pedra fundamental só veio em 2 de agosto de 1948. Será que ia dar tempo?
 
O suspense prolongou-se até o fim. Em crônica publicada em 1991 no Jornal do Brasil, o jornalista João Máximo recordou que o passatempo dos meninos de Vila Isabel daquela época, como ele próprio, era ir todo sábado ao Maracanã para ver o andamento das obras. As notícias que mobilizaram o Rio de Janeiro e o Brasil no fim dos anos 40 — a surpreendente vitória de Marlene sobre Emilinha Borba na eleição da rainha do rádio, o lançamento da candidatura de Getúlio Vargas à Presidência da República e a criação, pela Igreja Católica, de uma campanha em favor da família e dos bons costumes chamada Legião da Decência — tinham sempre a concorrência dessa interrogação prolongada, angustiante. O biógrafo de Ari Barroso, Sérgio Cabral, conta que as obras estavam a meio caminho quando, em agosto de 1949, ele cedeu ao nervosismo e denunciou na tribuna da Câmara o que acreditava não passar de um conjunto de “armaduras de madeira”: Pois então tinha brigado tanto pelo Maracanã para que ele não ficasse pronto a tempo?
 
Se no fim ficou, a mão de obra barata teve muito a ver com isso. Os 1.500 trabalhadores braçais do Maracanã ganhavam de 32 a 40 cruzeiros por dia, o que totalizava um salário inferior à média de um operário carioca da época. Muitos deles moravam na vizinha favela do Esqueleto, mais tarde removida para dar lugar à atual universidade do estado do Rio de janeiro (Uerj), e tiveram um bônus informal — que rendeu incontáveis puxadinhos — com as toneladas de madeira abandonadas no local depois que tanques do exército derrubaram os tapumes em torno do estádio, na véspera da inauguração. Dos 2,3 milhões de habitantes do Distrito Federal, apenas 300.000 – incluindo 60.000 funcionários públicos – tinham emprego formal.
 
Se a cidade, vítima do crescimento acelerado, sofria com engarrafamentos constantes e uma crônica falta de água que só começaria a ser resolvida em 1955, com a ligação provisória da adutora do Guandu, também nas obras do estádio imperava certo caos. O maior símbolo da improvisação é o operário anônimo citado pelo jornalista Renato Sérgio no informativo livroMaracanã — 50 Anos de Glória, que teria se queixado a um repórter, mostrando uma foice: “Me deram isso para cavar buracos”. Para usar uma gíria carioca de sucesso na época, segundo Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, a construção foi no “vai da valsa”.
 
Mas foi. Restaurado seu otimismo, e disposto a faturar algum por fora, Ari Barroso compôs às vésperas da Copa do Mundo um sambinha de ocasião que Linda Batista gravou, chamado O Brasil Há de Ganhar. Como logo se veria, tanto o autor de Aquarela do Brasil quanto o Jornal dos Sports estavam errados: engenharia civil era uma coisa; futebol, outra. Um mês após a inauguração do superestádio, construído na marra, um gol de Ghiggia aos 34 minutos do segundo tempo da final deu a Copa do Mundo ao Uruguai. Seja como for, a façanha do Maracanã ainda impressiona. Em 2002, o então prefeito do Rio, Cesar Maia, prometeu erguer em dois anos na Barra da Tijuca a Cidade da Música — que já mudou seu nome para Cidade das Artes, mas continua inacabada. A Copa de 2014 no renovado colosso do Derby é uma incógnita.