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Pedro Trengrouse, advogado especializado em Direito Desportivo
O Negócio é Esporte
24/02/2016
Depois de uma longa batalha entre clubes, federações e CBF, a Primeira Liga decolou e já sinaliza aspectos interessantes. Apesar de, em sua primeira edição, reunir apenas 12 clubes de cinco estados, os bons jogos e público elevado colocam o torneio em destaque em relação aos campeonatos estaduais. Para efeitos de comparação, as duas primeiras rodadas da Copa Sul-Minas-Rio registraram mais do dobro da média de público dos estaduais disputados até agora pelos clubes integrantes do torneio. A média de torcedores da Primeira Liga é de 10.002 pagantes por jogo, contra 4.766 do Mineiro; 3.087 do Carioca; 2.613 do Paranaense; 2.367 do Catarinense; e 2.080 do Gaúcho. Sem contar os mais de 30 mil torcedores que comparecem ao Estádio Mineirão, em Belo Horizonte, na vitória do Flamengo sobre o Atlético Mineiro pela primeira rodada do torneio, uma audiência típica de reta final do Campeonato Brasileiro. Além do sucesso na parte esportiva, a Copa Sul-Minas-Rio ainda aquece a discussão sobre a questão política que envolve o futebol brasileiro atual. Para o advogado Pedro Trengrouse, especialista em Direito Desportivo, “a Primeira Liga é o embrião de uma Liga Nacional”. Segundo Trengrouse, que é integrante da comissão de juristas que discute a Lei Geral do Esporte e um dos idealizadores do Movimento por um Futebol Melhor, “talvez falte um pouco de conhecimento e coragem por parte das equipes em promover uma ruptura mais abrupta no formato do futebol brasileiro”. Em entrevista aO Negócio é Esporte, o também consultor da ONU para legislação esportiva, em especial da Copa do Mundo 2014, e professor de Direito Desportivo da Fundação Getúlio Vargas, analisa a Copa Sul-Minas-Rio como oportunidade de discutir novos formatos de disputa e estrutura política, assim como para construir um novo ambiente de negócios no futebol brasileiro e promover mudanças que modernizem o esporte no país.
O Negócio é Esporte: Qual o seu balanço preliminar da Liga? Já se pode dizer que veio para ficar ou que vai ter cacife para encaminhar avanços na estrutura política e no ambiente de negócios do futebol brasileiro?
Pedro Trengrouse: A Primeira Liga é um sinal claro de que existe, em curto prazo, grande esperança de mudança. Os jogos da Copa Sul-Minas-Rio são melhores, mais atraentes e têm mais apelo do que as partidas dos campeonatos estaduais, já que essas nivelam grandes clubes por baixo. No entanto, a competição ainda está longe de alcançar o grande potencial devido à falta de tempo e ao desgaste que os clubes passaram para montá-la, o que impactou nas possibilidades de mercado e de patrocínio. Ainda assim, é um bom sinal de que a iniciativa da Liga de construir uma competição com jogos mais atraentes é o caminho certo. A Primeira Liga é o embrião de uma Liga Nacional. Se os outros clubes que ficaram de fora entrarem nós teremos a Liga Nacional.
O Negócio é Esporte: Na sua avaliação, a costura política que levou ao recuo da CBF reforça a independência ao modelo vigente do futebol brasileiro ou esse aval foi uma forma da entidade frear a rebelião dos clubes?
Pedro Trengrouse: A CBF e as federações fazem muitas bravatas, dizem coisas que não têm poder para fazer. A Lei Pelé é clara e dá direito aos clubes para criarem as Ligas. E mais: o artigo 21 diz que os clubes podem se filiar diretamente à entidade de administração nacional. Talvez falte um pouco de conhecimento e coragem por parte das equipes em promover uma ruptura mais abrupta. Agora, até mesmo o mercado reconhece a elas o poder de tomar essa atitude, já que, quem tem torcida e leva gente aos estádios são os clubes, e não as federações ou a CBF. Assim, se as equipes tiverem realmente o interesse e coragem para fazer a sua própria Liga, não tem Fifa, CBF ou federações para impedi-las. Até porque isso já aconteceu nos principais centros do futebol mundial. Por que não poderia acontecer aqui? A CBF e as federações tentam impedir isso porque sabem que o futuro não é mais essa estrutura hierarquizada, vertical, autoritária, antiquada e obsoleta que existe hoje e que foi criada pela ditadura do Estado Novo, em 1941. As entidades têm medo de que as torcidas deem realmente espaço a essas Ligas no mundo novo. O recuo da CBF e da FERJ em relação à Primeira Liga é justamente o sinal de que quem tem o poder realmente são os clubes. Eles só precisam utilizá-lo.
O Negócio é Esporte: Muito se fala que os estaduais deveriam acabar, principalmente em virtude dos estádios vazios e baixas audiências nas transmissões dos jogos de futebol, além do calendário arrastado. O que é preciso mudar essencialmente na estrutura política dos campeonatos estaduais ou regionais?
Pedro Trengrouse: Quando falamos de campeonatos estaduais as pessoas costumam lembrar apenas do Carioca, Paulista, Mineiro, do Rio Grande do Sul e de mais meia dúzia. No entanto, é importante encontrar um modelo que sirva à realidade e viabilidade econômica de cada um dos 27 estados do Brasil. Os estaduais dos anos 1970 eram competições onde todos os clubes tinham condições de disputar, conquistam títulos, revelavam talentos, tinham certa estrutura. A partir dos anos 1970 houve uma concentração de riqueza e a distância entre os clubes aumentou brutalmente. As federações estaduais passaram a reunir um conjunto de clubes que não tem mais tanta semelhança e subjugaram os interesses dos poucos que se desenvolveram aos dos muitos que não conseguiram crescer tanto. Quem dirige o futebol brasileiro atual, na verdade, não participa dele. Há uma distorção na balança de poder. É preciso que esses clubes tenham coragem de romper com as federações e passem a se filiar diretamente à entidade de administração esportiva nacional, para participarem dos processos decisórios, como aprovação do balanço e definição do calendário, e não só a escolha dos presidentes a cada quatro anos.
O Negócio é Esporte: Na sua opinião, os Estaduais teriam ou não espaço nessa nova configuração?
Pedro Trengrouse: O grande problema no calendário do futebol brasileiro é que 90% dos clubes jogam em média quatro meses por ano e fecham as portas no resto do ano. Na realidade, por um lado os campeonatos estaduais nivelam por baixo os clubes de grande poder de investimento e mobilização; por outro, eles são a resposta para solucionar o problema da falta de atividades para a grande maioria dos clubes no Brasil. Então é preciso encontrar uma maneira para que os estaduais tenham viabilidade econômica dentro de um novo formato, de modo que promovam atividades para as equipes que jogam apenas quatro meses por ano e libertem os grandes para que eles possam aproveitar o potencial econômico em outras competições. Se isso não acontecer o futebol brasileiro não conseguirá se desenvolver.
O Negócio é Esporte: Em relação ao anteprojeto da Lei Geral do Esporte discutido pela comissão de juristas da qual você faz parte e cujo relatório será apresentado no fim de maio, quais pontos, no seu entendimento, são mais representativos para o avanço do futebol brasileiro?
Pedro Trengrouse: Destaco quatro pontos: a criação de um tipo societário especial para o esporte, onde os clubes possam se organizar através de unidades de negócios distintas para cada uma das suas atividades esportivas e receba incentivos para isso; a criação de uma cédula de crédito esportiva que permita aos clubes aproveitar a capacidade de investimento que podem atrair com base nas transferências dos seus jogadores; a organização da Justiça Desportiva por arbitragem como já acontece nas principais competições do mundo; e a regulamentação das apostas esportivas no Brasil, de modo que possamos monitorá-las e identificar de antemão a manipulação de determinado resultado nos jogos do futebol brasileiro.
Com campanha iniciada por Pepe, marca inglesa ativa a tradição do futebol com sete modelos de calçados pretos
24 FEV., 2016 ESCRITO POR MKT ESPORTIVO
Uma linha para agradar em cheio aos boleiros que prezam pelo futebol tradicional. Longe das chuteiras coloridas, a Umbro apresentou a linha Black Pack, que conta com sete tipos de chuteiras e tênis, todos na cor preta.
Com modelos para todos os tipos de pisos, como campo e society (Attak 2), campo e indoor (Speciali Club), society e indoor (Speed 2) e apenas para indoor (Diamond), a marca inglesa promove a nostalgia do futebol e reforça sua essência e sólida tradição na modalidade.
O luso-brasileiro Pepe, embaixador da Umbro, recentemente estrelou uma campanha da marca para aproveitar a ocasião do “Valentine’s Day”. No vídeo, o “romântico” zagueiro declara seu amor por sua chuteira.
A partir de 2019, Sportv segue com os direitos de transmissão dos jogos da equipe na Tv fechada
24 FEV., 2016 ESCRITO POR MKT ESPORTIVO
Após terem suas respectivas propostas divulgadas no blog do Menon – e a do Esporte Interativo ser mais vantajosa no longo prazo (leia aqui) – o São Paulo decidiu no final da noite de ontem que assinará contrato com a Rede Globo. Aprovado por unanimidade pelo Conselho Deliberativo, o Tricolor paulista concordou em dar continuidade em seu acordo de Tv fechada com o Sportv a partir de 2019, em um contrato que será válido até 2024. Para esta nova fase, o São Paulo exaltou duas novidades do novo contrato: o recebimento de R$ 60 milhões de luvas no ato da assinatura e a possibilidade de poder negociar livremente a publicidade estática do Morumbi, antes de propriedade da emissora. Outra promessa feita pela Globo aos clubes que fecharem com ela é democratizar sua distribuição, com 40% dividido igualmente entre os participantes, 30% pelo desempenho no campeonato e 30% de acordo com a audiência. Com o acerto, o São Paulo se junta a nove clubes que já fecharam com a emissora, são eles: Corinthians, Vasco, Botafogo, Vitória, Sport, Cruzeiro, Atlético-MG e Fluminense.
Salários acima de R$ 50.000 existem só para 0,8% – no país do futebol, atletas ganham menos do que serventes de obras, catadores de lixo e tratadores de porcos
RODRIGO CAPELO
22/02/2016 - 08h00 - Atualizado 22/02/2016 23h27
Barcelona no ataque, três contra dois. O espanhol Pedro domina na meia lua da grande área da Juventus e toca para Neymar. Toque de esquerda para ajeitar a bola, chute com a mesma perna no contrapé do veterano Buffon. O placar em 3 a 1, com o gol nos acréscimos, dá ao Barça o quinto título da Liga dos Campeões. É a consagração do brasileiro, artilheiro da competição ao lado de Messi e Cristiano Ronaldo, com quem formaria mais para frente, em terceiro na Bola de Ouro, o trio de melhores jogadores do mundo em 2015. A rápida ascensão foi para lá de lucrativa. Aos 24 anos, Neymar ganha do clube só em salários, por mês, algo em torno de € 900 mil. São R$ 4 milhões no câmbio atual. Fora outros milhões em acordos publicitários que mais do que dobram a remuneração. Mas esta não é uma reportagem sobre Neymar. Esta é a história da fábrica de ilusões do futebol brasileiro que se inspira em figuras como ele.
Jogador de futebol “de verdade” ganha menos do que servente de obras. Não é metáfora, nem exagero. A diretoria de registro e transferência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) modernizou sistemas e pôde, pela primeira vez, diagnosticar com mais precisão o estado de saúde do futebol brasileiro. E ele está doente. Ao todo, há registrados 28.203 atletas profissionais no Brasil. Deles, 23.238 ganhavam até R$ 1.000,00 mensais em 2015. O servente, segundo o Ministério do Trabalho, teve salário médio inicial de R$ 1.000,17. Não só ele. Ganham mais do que 82,4% dos jogadores de futebol brasileiros também o ascensorista, o catador de material reciclável, o chapeleiro de senhoras, o garçom e o tratador de porcos.
Há, claro, quem ganhe mais do que o diretor de produtos bancários, profissional com salário médio inicial mais alto do país segundo o ministério, que chega à empresa com R$ 30.394,85 mensais. Existem 226 jogadores de futebol em solo brasileiro com contracheques acima R$ 50.000,01. Ora, ora, então esses atletas faturam pelo menos o dobro do que o banqueiro, provavelmente pós-graduado e com currículo de três páginas, às vezes sem nem terem terminado o ensino médio. É verdade. Só que eles representam 0,8% de todos os profissionais desta modalidade. São a exceção. Só um em cada centena ganha efetivamente mais do que um banqueiro. Na verdade, você acha que futebol paga salários obscenos porque só esses jogadores chegam à mídia – só jogos deles em grandes clubes são televisionados, só eles aparecem em programas, só fofocas sobre carrões, mulheres e “parças” deles ganham repercussão.
A desigualdade entre a elite e a larga base da pirâmide também existe em outros países. Na Inglaterra, números da Associação de Futebolistas Profissionais (PFA, em inglês) obtidos pela Sporting Intelligence mostram que, em 2009/2010, um jogador da Premier League, a primeira divisão, ganhava média de £ 96.863 por mês. Um da quarta divisão, £ 3.237 mensais, ou 3,3% do que fatura o colega mais rico. A razão é a mesma: no Brasil e na Inglaterra os clubes do topo dispararam em arrecadação depois que valorizaram contratos de televisão e patrocínio, reformaram estádios e criaram programas de associação. Os times de baixo continuam sem ter acesso a essas fontes de receita. Os mercados se comportam da mesma maneira. O que nos difere é que os pobres do Brasil são mais pobres do que os da Inglaterra. E, também, que os britânicos, divididos em um sistema de ligas que passa da décima divisão, jogam o ano todo.
A realidade do jogador invisível piora consideravelmente quando se acrescenta outro dado da CBF sobre um termo que assusta qualquer brasileiro: desemprego. Dos 28.203 atletas profissionais que tinham contrato assinado em 2015, somente 11.571 chegaram a janeiro de 2016 com contrato ativo. Quer dizer que 59% dos jogadores, seis em cada dez, ficaram desempregados no decorrer da temporada. A taxa de desemprego para todo o país, que bota medo no governo de Dilma Rousseff, está na casa dos 9%. Como tanta gente pôde ficar sem clube em tão pouco tempo? Houve 7.973 rescisões de contratos, equivalentes a 48% de todos os jogadores que perderam o emprego na temporada. Outros 52% são de pessoas cujos contratos foram feitos para acabar antes do fim do ano mesmo. Aí entra uma das justificativas para salário baixo e desemprego alto: falta calendário.
A maioria dos clubes contrata em dezembro, funciona de janeiro a abril, durante campeonatos estaduais, e fecha as portas durante todo o restante da temporada. Se não tem jogo, não entra dinheiro, e aí não tem jeito. Todo mundo vai para a rua se aventurar em outras profissões para botar comida na mesa. A maioria daqueles 16.632 jogadores de futebol que perderam o emprego no decorrer de 2015 tentou encontrar trabalho compatível com seu nível de instrução. Talvez alguns tenham virado serventes de obras, catadores de materiais recicláveis e garçons, profissões que pagam tanto quanto o futebol, mas não têm o mesmo apelo emocional na cabeça do atleta. Por que alguém sonha em ser jogador de futebol no Brasil? Desinformação. Reprodução de clichês. A ideia de virar um Neymar e enriquecer da noite para o dia, estatisticamente restrita a 0,8% dos jogadores brasileiros, faz com insistam na ilusão do futebol .
O diretor executivo do Bom Senso FC critica o modelo que deixa 60% dos jogadores brasileiros desempregados após os campeonatos estaduais
RODRIGO CAPELO
22/02/2016 - 08h05 - Atualizado 22/02/2016 09h11
Do 14ª andar de um dos vários prédios que fizeram Alphaville parecer São Paulo, Ricardo Borges Martins puxa as poltronas brancas da sala para o lado para dar espaço à câmera de ÉPOCA. Acabara de chegar de uma reunião com João Paulo Medina, preparador físico que fundou a Universidade do Futebol, com quem debate a criação de um plano diretor para o futebol brasileiro nos dez anos entre 2016 e 2025. Troca de camisa, passa o fio do gravador por entre os botões e se prepara para recomeçar o diagnóstico do esporte mais querido do país.
Formado em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo (USP), Ricardo foi escolhido no fim de 2013 por jogadores como Alex, Juan eDida, todos com histórico na Seleção Brasileira e em alguns dos clubes mais populares do país, para representá-los. Como diretor executivo do Bom Senso FC, fundado para militar pelo desenvolvimento do futebol brasileiro, cumpre o papel de formatar, em conjunto com os atletas, propostas para modificar o sistema.
A primeira conquista do grupo veio em 2015 – parlamentares tiveram o bom senso de incluir no Profut, lei federal que permite a renegociação de dívidas fiscais, exigências que clubes terão de cumprir para alongar o endividamento e receber verba dos generosos patrocínios da Caixa. Restrições aos gastos e prejuízos dos times, em teoria, devem melhorar a vida do atleta. O próximo passo é reformar a temporada. "Hoje, o calendário gera desemprego sistêmico em massa", explicou à reportagem em uma hora e meia de conversa.
ÉPOCA – O que é o Bom Senso FC? Ricardo Borges Martins – É uma organização social de interesse público. Com esse título que conseguiu no Ministério da Justiça, nós somos hoje uma espécie de think and do tank (uma entidade que estuda um tema e também atua nele) que reúne profissionais do futebol. Somos conhecidos pela nossa liderança de atletas e ex-atletas que defendem bandeiras e trabalham pela implementação dessas bandeiras no futebol brasileiro. Nosso objetivo principal é o desenvolvimento do futebol brasileiro.
ÉPOCA – Como o Bom Senso FC foi formado? Martins – O movimento começou em setembro de 2013, numa conversa entre o Alex [então no Coritiba] e o Juan [então no Internacional] ao final do jogo em que o Inter estava passando por um período de 12 dias com cinco jogos, sem poder treinar, e os jogadores começaram a conversar sobre os problemas do calendário. Dessa união dos jogadores, de chamar mais gente para debater propostas de mudança para o futebol brasileiro, nasceu o Bom Senso com protestos em campo e consolidação de duas bandeiras. Uma o calendário. Nós temos uma proposta para resolver o problema dos calendário no Brasil. E outra com fair play financeiro, que bem ou mal se desenrolou e está sendo implementado agora no Profut. De lá para cá nos formalizamos como associação, como organização sem fins lucrativos, e hoje estamos desenvolvendo em parceria com a Universidade do Futebol um plano diretor para o futebol brasileiro. Um plano para os dez anos do futebol brasileiro.
ÉPOCA – Qual o diagnóstico que vocês fazem do futebol brasileiro? Martins – Os clubes no Brasil são altamente deficitários há muito tempo, são geridos de forma amadora, seus dirigentes não são responsabilizados. Historicamente não temos sequer um caso de dirigente responsabilizado por caso de má gestão. São muitos casos de atrasos de salários, e aí não só para atletas, mas para funcionários de diversos clubes. E bem ou mal os clubes sempre conseguiram se livrar de pagar dívidas, pelo menos as dívidas com a União, porque sempre aparecia um novo refinanciamento.
ÉPOCA – O que vocês defendem em relação à gestão dos clubes? Martins – O que a gente quer são clubes mais profissionais, geridos por pessoas do ramo, pessoas que não queiram se aproveitar do futebol, mas que sejam qualificadas e que queiram contribuir para o desenvolvimento do futebol brasileiro. E que os clubes consigam no médio prazo e no longo prazo competir com as grandes forças internacionais. Não tem por que no Brasil com o PIB que tem, com a importância que o futebol tem, a gente se limitar a esse papel tão marginal no cenário internacional do futebol.
ÉPOCA – Como vocês avaliam o calendário do futebol nacional? Martins – Hoje o calendário essencialmente gera desemprego sistêmico em massa. Na casa dos 80%, 70% dos jogadores ficam desempregados por quase oito meses ao longo do ano. Dos 700 clubes profissionais, dá para dizer que 600 têm calendário só por três, quatro meses, e do outro lado os clubes de elite têm jogos em excesso. Quando a gente compara com a liga inglesa, um dos países que mais tem jogos, o Brasil tem 40% a mais de jogos no ano, tendo muito menos tempo de preparo, aperfeiçoamento técnico e físico, portanto prejudicando o espetáculo aqui. O que a gente quer é equilíbrio do calendário. Que os clubes grandes tenham menos jogos e mais tempo de preparação. E que os clubes de menor porte, do interior, possam ter calendário mais extenso para oferecer emprego e oportunidade de geração de receita e de profissionalização para os jogadores empregados por eles.
ÉPOCA – Quatro em cada cinco jogadores de futebol ganham até R$ 1.000 por mês. E menos de 1% ganham acima de R$ 50.000. Por que há tanta diferença? Martins – A grande questão sobre salários no mundo do futebol é a discrepância entre o que se imagina, o que a opinião pública imagina que são os salários dos jogadores de futebol, e o que é a realidade. A realidade da maior parte dos jogadores é a realidade da maior parte dos setores do mercado de trabalho do Brasil. Você tem uma grande pirâmide, uma base muito mais volumosa e um topo, uma elite, muito bem remunerado. A questão é que o futebol está muito em evidência, os jogadores de elite estão muito em evidência, os salários são sempre muito expostos, e eles também são muito expostos em função disso.
ÉPOCA – A questão salarial é uma bandeira do Bom Senso? Martins – Ao nosso ver o mais importante, do ponto de vista salarial, é que os jogadores sejam remunerados. A gente sabe que a remuneração é baixa para grande parte desses jogadores, sim, mas o que é mais grave, e o que deve ser punido e combatido, que a CBF e as entidades de administração do futebol e prática, os clubes, têm que endereçar, é a falta de pagamento. Porque se a gente acha dramático o sujeito ficar oito meses desempregado ao longo do ano, você imagina ficar desempregado tendo recebido um só dos quatro que ele trabalhou.
ÉPOCA – Por que atletas persistem no futebol? Martins – O agravante é que ser jogador de futebol, para todos, para nove entre dez crianças no Brasil, sempre foi um sonho. Por mais que ele se encontre num clube da Série B, da Série C de um Campeonato Estadual de um estado sem muita expressão, ele está realizando um sonho dele. Ele acredita que um dia ele pode, sim, chegar a um grande clube. E, como em nenhum momento esse problema é resolvido, ele continua ali dentro do clube imaginando que um dia ele vai sair dali, chegar à Série A, sair do país para um mercado emergente, um mercado estabelecido. O futebol acaba se tornando uma fábrica de ilusões para a maior parte de pessoas que deixa de se profissionalizar em outras áreas para arriscar a vida no futebol sabendo que é muito difícil chegar ao topo nessa estrutura.
ÉPOCA – Quais relatos vocês já ouviram de atletas em relação à jornada dupla: jogar futebol e ter outras profissões? Martins – A maior parte trabalha e joga futebol ao mesmo tempo. Isso aconteceu. Teve até um caso, um jogador de Roraima que trabalhava numa olaria, acordava às 4h para trabalhar, saiu do trabalho às 18h correndo para disputar um jogo às 20h, o time foi campeão da Série A do Estadual, e o jogador desmaiou ao final do jogo. Não só por emoção, mas porque estava morto. Acordou às 4h da manhã, trabalhou numa olaria, que é um trabalho físico pesado, e depois jogou um jogo de 90 minutos. Você tem uma série de casos como esse, o jogador que tem que trabalhar, senão não tem nenhuma remuneração, e joga apostando que um dia vai se tornar profissional, vai conseguir ascender ao topo da pirâmide.
ÉPOCA – Os salários baixos refletem clubes sem condições financeiras. Por que os times da base da pirâmide são tão pobres? Martins – Em boa parte porque o público, a audiência, aqueles que consomem e fazem do futebol uma indústria, se concentram na elite do futebol. O que explica um Flamengo ter a receita que tem, um Corinthians ter a receita que tem, é a quantidade de pessoas interessada nisso, por notícias sobre isso, que assistem aos jogos, que compram camisetas. E os clubes menores, por não terem essa atenção, essa exposição, acabam tendo muito menos recursos. Eu não diria que é natural, mas é compreensível, numa lógica como essa, que os recursos venham da exposição, que os clubes menores tenham receita muito inferior.
ÉPOCA – O que o Bom Senso já conseguiu conquistar em relação aos salários? Martins – O que a gente sempre defendeu é que os clubes precisam arcar com aquilo que foi acordado com o jogador. Os salários precisam ser pagos em dia. Nós defendemos, dentro de um sistema de fair play, que os clubes precisam, e hoje isso já está estabelecido em lei, apresentar para se inscrever nos campeonatos uma série de documentos que comprovem que os salários estão em dia. Que pelo menos naquele último ano, não é que o clube não pôde atrasar um ou dois meses, mas que no último ano as obrigações trabalhistas foram pagas. Não só as trabalhistas, mas as de direito de imagem, que a gente sabe que mesmo em clubes do interior, que não usam a imagem do atleta, boa parte dos salários também é paga em direito de imagem. Isso está no Profut por reivindicação nossa.
Outra reivindicação nossa que entrou no Profut, mas não como a gente queria, é a limitação do custo do futebol. É uma espécie de teto salarial, mas, em vez de ser individual e fixo, é variável, de acordo com o orçamento do clube, e é coletivo, pega a folha inteira e não só para um. Defendíamos com base em uma série de estudos e com base no padrão internacional que fosse limitado em 70% do orçamento do clube, ou seja, o clube teria que reservar 30% do seu orçamento não só para pagar dívidas, mas para investir na sua base, investir na sua infraestrutura. Não entrou assim no Profut. Entrou com 80%. Mas, enfim, faz parte também do próprio processo legislativo. Não era só o Bom Senso que estava sendo ouvido, pelo contrário, havia muita gente sendo ouvida. E acabou ficando 80% para os clubes que aderirem de fato ao refinanciamento.
ÉPOCA – Onde vai parar todo o dinheiro que os clubes de elite arrecadam? Esse dinheiro deveria escorrer até os clubes da base da pirâmide, não? Martins – Boa parte desse dinheiro acaba com empresários, principalmente de grandes talentos em que fundos se juntam. Por mais que Fifa e CBF tentem lidar melhor com essa questão dos empresários no futebol, a gente sabe que eles são muito presentes, eles têm um poder de investimento às vezes maior do que o dos clubes. Na hora de fazer a seleção de atletas, os famosos olheiros, os próprios empresários também têm olheiros e conseguem fazer um investimento na carreira do atleta que é muitas vezes mais profissional do que o clube.
ÉPOCA – Como o Bom Senso vê a figura do empresário, especificamente? Ele precisa ser expurgado do futebol? Martins – Não é só uma questão de vilanizar o empresário, mas entender que os empresários hoje conseguem oferecer um serviço que clubes não conseguem oferecer. De oferecer segurança para a carreira do jogador. É claro que existem maus exemplos, mas existem bons exemplos. Digo isso porque ficou costumeiro falar mal de empresários, e eles não são os únicos vilões. A ascensão dos empresários se deu muito pela fraqueza econômica e de gestão dos próprios clubes no Brasil. Se eles fossem mais bem geridos, administrados, haveria menos espaço para que empresários lucrassem com essas transferências.
ÉPOCA – Há mais lugares em que dinheiro é desperdiçado no futebol? Martins – Boa parte do dinheiro que entra também acaba indo para dívidas. Os clubes brasileiros são altamente deficitários. Os EBITDAs [saldo de receitas menos despesas antes de impostos], quando analisados, são quase sempre negativos. Se não me engano de 2014, dos 20 clubes da Série A, 12 tiveram EBITDA negativo, e isso é uma prática recorrente, muito em função da baixa responsabilização dos dirigentes. Existe uma lógica no Brasil do dirigente que assume com mandato curto de querer marcar época à frente do clube ganhando títulos. Existe uma mentalidade de curto prazo e de cobrança por resultado esportivo que acaba prejudicando a gestão de longo prazo.
ÉPOCA – Como é a experiência de atletas que cobram na Justiça salários devidos? Martins – A experiência dos atletas na Justiça, quando entram com ação contra um clube que não pagou, não cumpriu o contrato, costuma ser exitosa, mas demora demais. Já dizia o ditado que Justiça que tarda não é Justiça. Tem inúmeros casos de jogadores que foram receber depois de dez, 15 anos. E aí vale muito ressaltar o baixíssimo desempenho que os sindicatos têm com relação ao atraso de salários. Os sindicatos do Brasil de maneira geral nunca conseguiram criar mecanismos para que os atrasos fossem impedidos.
ÉPOCA – Por quê? Martins – Porque para os sindicatos e escritórios de advocacia que orbitam em torno dos sindicatos é relativamente importante você continuar a ter casos para resolver. Os sindicatos nunca tomaram uma decisão que realmente fosse resolver o problema porque o problema, o atraso de salários, é a solução deles. É onde eles conseguem fazer contratos com outros escritórios de advocacia que ganham dinheiro em cima disso. Existe uma indústria da Justiça esportiva brasileira que trabalha só com atraso salarial.
ÉPOCA – Qual o tamanho disso? Martins – Difícil estimar o tamanho desta área do direito desportivo que trabalha especificamente com atrasos salariais. O que a gente sabe é que dentro da área de direito desportivo é uma das que mais lucram, que mais recebem, porque os casos são muitos, as questões trabalhistas no Brasil costumam respaldar o trabalhador, isso justamente. Mas é válido considerar aí que em toda a estrutura do futebol, nunca se fez nada para solucionar atrasos salariais porque muita gente se beneficia dos atrasos, e sem dúvida não são os atletas.
ÉPOCA – O Bom Senso tem capacidade de paralisar o futebol brasileiro? Martins – Vou te dizer que uma ação desse tipo, além de requerer respaldo jurídico que o sindicato deveria dar, depende muito de momento. O Bom Senso tem uma estrutura de organização do terceiro setor, de organização social, consegue ajudar, sim, eventualmente, um caso ou outro, mas não é essa nossa atuação principal. Nossa atuação principal é na defesa de bandeiras para o futebol brasileiro com os tomadores de decisão, seja da esfera pública ou privada. Eventualmente essa união dos jogadores que o Bom Senso de alguma forma materializa ou se torna emblema pode levar a algum tipo de paralisação, mas isso não está no nosso escopo de atuação. É uma eventual consequência, mas muito mais dependendo de circunstâncias do que programática.
ÉPOCA – Os protestos que atletas do Bom Senso já fizeram repercutiram muito na mídia. Há algum efeito prático além disso? Martins – Normalmente o efeito de protestos em campo, ou mesmo de notas que o Bom Senso publica, ou declarações dos atletas, têm impacto, sim, porque a opinião pública impacta muito os tomadores de decisão. Eu acredito que quando os torcedores no Brasil quiserem realmente ver mudança radical na maneira como clubes são geridos, como o futebol é gerido, eles organizados podem fazer diferença. Mas não é cobrando resultados de dirigentes em campo. É cobrando boa gestão, cobrando transparência, cobrando espaço para que torcedores consigam participar da tomada de decisão da vida do clube – em algum grau, é claro.
ÉPOCA – Você acredita nisso? Martins – É um pressuposto de quem trabalha com esse ramo de atividade acreditar que opinião pública tem muito peso, influencia, sim, tomadores de opinião. O Profut está aí para mostrar que a pressão que as pessoas fizeram para a aprovação da MP que virou o Profut foi fantástica. Tivemos na nossa campanha digital mais de 20 mil e-mails enviados para deputados, senadores e também para o Executivo de pessoas pedindo a aprovação do Profut. Recebi telefonemas de deputados reclamando e de deputados parabenizando. O Brasil como um todo, não só o futebol, precisa, sim, acreditar na pressão que a sociedade civil pode fazer e do peso que ela pode ter no tomador de decisão .
O Santos cansou de ser coadjuvante no campeonato organizado pela Rede Globo que, ao final, tem favorecido sempre os mesmos: Corinthians, São Paulo, Cruzeiro, e até regionalmente o Flamengo. Com a experiência de quem foi criticado por um diretor da emissora quando da sua participação na final do Paulistão com o Santo André, o clube da Vila decidiu virar protagonista e assinou com o Esporte Interativo. Especula-se que outros clubes igualmente alijados do clube dos Vips podem fazer o mesmo: Botafogo, Atlético Mineiro, Cruzeiro, Palmeiras e Fluminense, entre eles.
A notícia foi divulgada na noite desta sexta-feira (12) pela interina da Coluna da TV do Uol, Camila Mattoso.
"Depois de ter apalavrado o acerto com o canal Esporte Interativo, o Santos assinou de fato o contrato durante o Carnaval.
O acordo começa a valer em 2019, apenas para a transmissão do Campeonato Brasileiro em rede fechada, por cinco anos, até 2023.
Assim, acabaram as chances de uma reviravolta para permanecer com a SporTV.
Nas negociações, o canal, que tem como sócia-majoritária a Turner, gigante norte-americana da área do entretenimento, oferece cerca de nove vezes mais ao grupo que fechar com ela, em relação ao que paga a emissora da Globosat.
"Assinamos e agora está tudo certo. Achávamos que merecíamos mais atenção. O aumento financeiro foi exuberante. Estamos felizes", afirmou o vice-presidente da Vila Belmiro, César Conforti, ao blog".
Em 2010, após a final do Paulistão reunindo Santos e Santo André, vencida pelo clube santista por 3 a 2, o diretor da Globo, Marcelo Campos Pinto (hoje fora da emissora) reclamou. O motivo: não havia um time mais expressivo na final, como Corinthians ou São Paulo. Aos pequenos, portanto, só restaria a ruína.
O valor do contrato que seduziu o Santos não foi divulgado, mas sabe-se que aproxima-se do que é oferecido a Flamengo e Corinthians, aproximadamente R$ 180 milhões.
Veja os valores que a Globo paga ao seu time pela transmissão dos jogos: