Recentemente foram divulgados os valores pagos pelos direitos de TV da Premier League para a temporada 2016-17. Analisando os dados, fica claro como o modelo empregado no Brasil está completamente equivocado.
Na Inglaterra, a cada novo contrato as diferenças entre os times ficaram menores. O contrato global da liga cresceu muito e o nível da competição também.A lógica é clara, quanto mais equilíbrio nos valores divididos nos direitos de transmissão, maior a chance de haver um equilíbrio esportivo.
Esse modelo praticado nas ligas americanas foi adequado ao futebol inglês. No caso dos EUA é ainda mais rigoroso, com uma divisão igual para todos os times, além da divisão de recursos de patrocínios das ligas para os times e vendas de produtos.
A Inglaterra mostrou ser possível criar um modelo que pudesse ser a cada ano mais equilibrado, pelo menos no que tange aos direitos de transmissão. Digo isso, porque assim como nos EUA, os grandes times continuam faturando mais que os pequenos.
Mas não por conta da TV e sim pelos altos valores gerados com estádios, acordos comerciais individuais e no caso dos europeus exploração global das vendas de produtos.
O atual contrato do campeonato inglês divide £ 2,5 bilhões entre os times, mais de R$ 10 bilhões por ano. Nessa última temporada todos os times receberam £ 84,4 milhões fixos.
O campeão Chelsea ficou com um total de £ 153,3 milhões. Além do valor fixo garantindo, recebeu outros £ 30,4 milhões pelos jogos transmitidos e mais £ 38,4 milhões por seu desempenho.
O último colocado Sunderland recebeu £ 99,9 milhões, além do valor fixo igual para todos, outros £ 13,6 milhões pelos jogos transmitidos e £ 1,9 milhão pelo desempenho.
Isso significa que a diferença entre o primeiro colocado em valores recebidos e o vigésimo colocado foi de apenas 1,5 vezes.
E essa diferença era de mais de 2 vezes em contratos mais antigos. Isso significa que quanto mais os valores cresceram, menor ficou a distância entre os times.
Enquanto para os times que mais recebem da TV os valores representam cerca de 35% de seu orçamento, para os pequenos esse valor pode chegar a 90%.
A liga não consegue equilibrar os times como um todo, mas pelos menos garante um mínimo necessário para melhorar a qualidade de todos os times, e não apenas de alguns.
No Brasil a diferença só aumenta
O mundo do futebol já percebeu que é fundamental que os valores de televisionamento sejam divididos de forma mais equilibrada.
Infelizmente no Brasil, pela falta de uma liga e pela presença de uma única emissora até agora ditando as regras, caminhamos no sentido oposto.
A entrada do Esporte Interativo apenas obrigou a Globo a gastar mais, mas nem por isso mudou esse formato de privilegiar os grandes em detrimento dos pequenos.
Segundo meu estudo publicado sobre as finanças dos clubes em 2016, as emissoras de TV entre direitos de TV e luvas pelos novos contratos pagaram R$ 2,5 bilhões aos 20 maiores clubes em receitas do Brasil.
Flamengo foi o que mais recebeu e ficou com R$ 297,2 milhões. Chapecoense foi o vigésimo time do ranking, com apenas R$ 30,6 milhões recebidos da TV.
Isso significa que a diferença entre o que mais recebe e o que menos recebe, disputando a mesma competição é atualmente de inacreditáveis 9,7 vezes!
Sem dúvida um desserviço ao futebol brasileiro e uma fata de visão da principal detentora de direitos de TV, já que essa discrepância somente piora o nível técnico da competição e a deixa cada dia mais previsível.
Previsibilidade no esporte gera menores índices de audiência e distanciamento de empresas anunciantes nas transmissões no longo prazo.
Um erro que somente uma liga evitaria.
Um verdadeiro tiro no pé da própria Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário