Por Olivier Pironet*
Fundada em 1904 na prestigiosa Rua Saint-Honoré, em Paris, depois transferida em 1932 para Zurique, após a crise financeira de 1929, a Fifa se tornou uma multinacional da bola. Apesar do estatuto de associação sem fins lucrativos, a instância máxima do futebol mundial abocanha mais riquezas que certos Estados: em 2010, seus negócios atingiram a soma de US$ 1,3 bilhão.
Ao agir como uma empresa comercial, suas preocupações são antes de tudo financeiras. E ela vende caro seu “carro-chefe”: a Copa do Mundo, cujos promotores se gabam das arrecadações cada vez mais positivas em termos de notoriedade e receita aos países-sede. Mas as condições para sediar uma Copa são as mais draconianas: exoneração fiscal e taxa de valor agregado (TVA) para a instância federal, seus empregadores e prestadores de serviços; liberdade total de exportação e conversão de divisas; acesso gratuito às telecomunicações; suspensão da obrigação de visto durante a competição etc.
A Fifa se reserva igualmente o direito de escolher as propagandas que podem ser exibidas em um raio de 10 quilômetros dos estádios – essa área delimitada constitui, segundo a terminologia da federação, uma “zona de comércio exclusivo”, da qual são banidas as marcas concorrentes de seus parceiros e os vendedores ambulantes. A federação exige, ademais, a instalação de uma “cidade de patrocinadores” de pelo menos 35 mil metros quadrados. Tudo isso implica um custo (exorbitante) de segurança que deve ser inteiramente coberto pelo país organizador.1No Brasil, onde será realizada a edição de 2014, vozes se levantam desde já para denunciar os “mandamentos” da Fifa e a intromissão de seus representantes nos negócios do país. Além de suas exigências habituais, a federação solicita a inscrição de novos delitos no código penal brasileiro, a possibilidade de vender bebidas alcoólicas nos estádios – proibidashá dez anos –, a revisão da lei que garante entradas por metade do preço a maiores de 60 anos e estudantes, assim como a condenação de dois anos de prisão para aquele que atentar contra a imagem dos patrocinadores. São tantas as medidas extras solicitadas, que, segundo a revista semanal IstoÉ, constituiriam um Estado paralelo se rigorosamente aplicadas” e “colocariam em risco a soberania nacional”.2
*Olivier Pironet é jornalista.
1 Durante a Copa do Mundo na África do Sul (2010), a cidade de Pretória teve de desembolsar cerca de US$ 200 milhões somente para assegurar a ordem pública durante um mês; 200 mil policiais foram mobilizados com os impostos dos contribuintes.
2 “A Fifa atacada por Dilma Rousseff”, Courrier International, Paris, 27 out.-2 nov. 2011.
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