PAULO ROBERTO CONDE
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
12/03/2017 02h00
Passados sete meses dos Jogos Olímpicos do Rio, mais da metade das confederações esportivas brasileiras perdeu patrocínio, está sem apoio ou prevê uma fuga maciça de investimentos no ciclo que termina em 2020, em Tóquio.
Levantamento feito pela Folha aponta que dez entidades perderam algum tipo de apoio após a Rio-2016 ou ao longo do ano e cinco já não possuíam patrocínio nem têm expectativa de obtê-lo.
Outras sete vivem situação de impasse, sem saber se terão vínculos com importantes empresas estatais renovados para os próximos anos.
Apenas cinco das confederações consultadas disseram ter mantido ou acrescentado patrocinadores à sua lista.
A situação se agrava porque duas das principais estatais do país, a Caixa e a Petrobras, ainda não definiram a quem vão manter o apoio nos próximos anos. A exceção é o remo, cuja confederação afirmou à reportagem que o aporte de R$ 1,5 milhão da Petrobras não será renovado.
Os investidores têm retirado os projetos sobretudo por dois motivos: crise econômica e fragilidade administrativa das confederações.
"Pesos-pesados" do cenário olímpico brasileiro como atletismo, basquete e desportos aquáticos atravessam situação de agonia em relação à retração de investimento.
A CBAt (confederação de atletismo) perdeu o apoio da Globo, de R$ 1,5 milhão por ano, e ainda espera decisão da Caixa, que lhe injetou R$ 90 milhões entre 2013 e 2016.
"Vamos perder 20% do nosso orçamento para 2017", afirmou a confederação, em nota, para em seguida salientar que fez corte de pessoal.
Impacto nos resultados é algo que o basquete e os desportos aquáticos dificilmente conseguirão evitar.
A CBB (confederação de basquete), que ostenta dívida superior a R$ 17 milhões e na sexta (10) elegeu Guy Peixoto Júnior como seu novo presidente, perdeu R$ 8,5 milhões ao ano do Bradesco.
A CBDA (aquáticos) também perdeu repasse do banco. Mas também viu as saídas da Sadia e um corte profundo dos Correios. Ao todo, o superintendente Ricardo de Moura estima em 75% de perda na comparação com 2016.
"Tivemos de adaptar eventos à nova realidade", disse. Entre as medidas está mandar só dez nadadores ao Mundial da Hungria, em julho.
Já a confederação de handebol, que tem seleções de nível mundial, afirmou que foi necessária "readequação de planejamento" após perder o fornecedor de material esportivo e manter só um terço do que levava dos Correios.
O mais preocupante é que o dinheiro não chegará à preparação de atletas. O tênis de mesa, que tem hoje em Hugo Calderano pela primeira vez um atleta entre os 23 melhores do mundo, viu suas verbas caírem 45% ante 2016.
"Houve corte nos eventos organizados pela CBTM nesta temporada, além do corte de custos para o envio de atletas para competições internacionais", disse a confederação em nota. Dos 17 torneios a que as seleções foram em 2016, neste ano serão só seis.
Até o COB (Comitê Olímpico do Brasil) está sem patrocinadores privados –perdeu Nike, Nissan e Bradesco.
Com menor arrecadação em relação a 2016, o comitê diminuiu e reformulou o repasse da Lei Piva às confederações. Tiro esportivo, tiro com arco, badminton e pentatlo moderno são entidades que dependem única e exclusivamente desta verba.
"O prejuízo [de R$ 800 mil] que tivemos foi sério e não há como recompor", disse Durval Balen, chefe da confederação de tiro esportivo.
ILESO, JUDÔ PAGA BÔNUS E FECHA BASE NO JAPÃO
Em meio à debandada de investimentos para as confederações esportivas olímpicas após os Jogos do Rio, judô e rúgbi têm passado praticamente ilesos à crise.
Esporte que mais medalhas olímpicas deu ao Brasil (22), três delas no Rio, o judô renovou com seis dos sete patrocinadores e apoiadores que despejaram dinheiro nos tatames no ciclo até 2016: Bradesco, Cielo, Mizuno, Infraero, Scania e Globo.
A única pendência é a Petrobras, que ainda avalia que investimentos fará para o próximo ciclo. Entre 2013 e 2016, a estatal repassou cerca de R$ 20 milhões à confederação.
A CBJ (confederação brasileira) diz que não terá grande redução em seu orçamento para o ciclo que se encerra em Tóquio. "Nosso terremoto na escala Richter não chegou a grau 3", afirmou Paulo Wanderley, que chefiou a entidade até este mês e é vice do Comitê Olímpico do Brasil.
O dirigente afirmou que a entidade distribuirá R$ 1,5 milhão entre os medalhistas olímpicos e mundiais, como incentivo. A cada semestre é feita uma reavaliação, que define o quanto será repassado a cada um.
O judô brasileiro já definiu onde fará sua aclimatação antes dos Jogos Olímpicos de 2020. Até 60 pessoas, entre atletas, técnicos, profissionais de saúde e oficiais vão passar as duas semanas que antecedem a Olimpíada na cidade de Hamamatsu, cerca de 200 km distante de Tóquio.
A CBRu (confederação de rúgbi) acrescentou os Correios à sua lista de patrocinadores e afirmou que terá um orçamento em 2017 maior do que o realizado em 2016.
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