sexta-feira, 17 de junho de 2011

Nike vs Adidas

Futebol Business


sexta-feira, 17 de junho de 2011 às 19:53Por Futebol Business


ENQUANTO O CENÁRIO DE CLUBES SE CONSOLIDA CADA VEZ MAIS, AS LÍDERES MUNDIAIS NIKE E ADIDAS DUELAM PELAS CHUTEIRAS DOS JOGADORES
Higuaín em foto para o blog nikefootball.com
Higuaín em foto para o blog nikefootball.com
Higuaín e Agüero recentemente foram notícia por torcarem de marca de suas chuteiras. Agüero sempre usou nike e Higuaín usava Adidas. No último treino da seleção argentina voltado para a Copa América, ambos foram vistos usando Nike. A notícia que envolve Agüero é mais recente, e embora possa ter sido somente um rumor, não deixa de ser uma ameaça.
É difícil imaginar o Barcelona ou a Internazionale usando material esportivo de outra fornecedora sem ser a Nike. Assim como Real Madrid e Milan estão fortemente vinculados à Adidas. Mas se percebe uma tendência estratégica, que muitas vezes era associada ao comportamento, ou estilo do atleta e seu poder midiático e de venda.
Cristiano Ronaldo usa Nike, no Real Madrid enquanto Messi usa Adidas no Barça
Cristiano Ronaldo usa Nike, no Real Madrid enquanto Messi usa Adidas no Barça
Há anos atrás se dizia que tal marca, seja ela Nike, Adidas ou outra qualquer, influenciava os atletas patrocinados por elas, na hora de decidir o futuro. Mas isso, se chegou a ser verdade, não durou muito. Hoje as marcas conseguem entrar dentro do terreno das concorrentes justamente no pensamento inverso.

A Adidas tem plena penetração no universo Barcelonista, assim como a Nike no Merengue. Curioso, não? Basta verificar os principais jogadores de cada time. Messi, Xavi, Dani Alvez, David Villa e Pedro usam Adidas. Já no Real Madrid: Sergio Ramos, Marcelo, Özil, Cristiano Ronaldo e agora, Higuaín, usam Nike.
Não é mera casualidade, mas sim uma grande prova de que não há nenhuma influência negativa na hora de um jogador ir para um clube ou outro por conta das chuteiras que usa e o material esportivo daquele clube. Muito pelo contrário, se o Barcelona se interessa por um atleta Adidas, a Adidas vai entender como mais uma maneira de se penetrar num domínio Nike.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Ex-atletas do Santos vão à Justiça por direitos de imagem




LUCAS REIS
DE SÃO PAULO

Homenagear aquele Santos bicampeão do mundo tem custado caro para três grandes empresas.

Os principais jogadores do esquadrão que fez sucesso nos anos 60 enfrentam batalhas judiciais pelo uso indevido de suas imagens.
E levantam a discussão sobre a exploração da imagem de grandes ídolos do passado por parte dos clubes.
A decisão mais recente, de 31 de maio, condena a Umbro a pagar R$ 40 mil individualmente para Lima, Pepe, Dorval, Gilmar, Mengálvio e Coutinho. Cabe recurso. Na decisão em primeira instância, a Umbro saiu vitoriosa.
Ricardo Saibun/Divulgação Santos FC
Pepe, ex-jogador do Santos
Pepe, ex-jogador do Santos
Eles afirmam que a empresa inglesa usou a imagem do time do Santos em um kit que o clube lançou para comemorar os 40 anos do bi mundial, em 2003, sem a devida autorização dos ex-atletas.
Os seis jogadores mais Zito, Ismael, Raul e a família de Almir Pernambuquinho também acionaram a Telefônica, que lançou cartão telefônico homenageando a Libertadores de 1962. A companhia espanhola pagou, em 2007, 50 salários mínimos para cada um dos dez jogadores.
Também corre na Justiça ação parecida, de oito jogadores, contra os Correios. Em 2001, a companhia lançou selos comemorativos aos campeões brasileiros da Libertadores. Na edição santista, a tarja de folha de 20 selos trazia a foto do time.
"Bastaria a Umbro ter nos pedido autorização", disse à Folha o ex-atacante Pepe, presente nos três processos.
Advogado dos atletas, Miguel Galante Rollo diz que as empresas tinham autorização do Santos para usar apenas o escudo do time.
"Cada um dos ex-jogadores deveria autorizar. Não caberia ao Santos conceder a autorização, já que o clube não detinha o direito de imagem deles", afirmou Rollo.
Segundo ele, o que motivou as ações foi o fim comercial do uso. "Eram homenagens, mas visavam lucro."
A Umbro afirma ter ficado "surpresa" com a ação e diz que vai recorrer da decisão.
"Temos uma relação de muitos anos com o Santos, e nós temos os direitos de imagem do clube", declarou Francisco Machado, diretor do Grupo DASS, que representa a Umbro no Brasil.
Os Correios informaram que a imagem foi cedida pelo Santos e que as indenizações cabem ao clube. "Sobretudo por se tratar de imagem obtida em acontecimento público", informa nota, que ressalta o "intuito cultural e informativo da imagem".
A Telefônica diz que indenizou os atletas e sempre "agiu de boa-fé, tendo celebrado contrato com o Santos, visando usar seus símbolos e contar sua história".
Mário Mello, responsável pelo departamento jurídico do Santos entre 2003 e 2009, defende o clube. "O Santos não pode autorizar o uso de imagem de ex-jogadores."

terça-feira, 14 de junho de 2011

Cinco meses em branco: Mesmo com Ronaldinho, Flamengo segue sem patrocínio

O Globo


Miguel Caballero
Apesar da chegada do astro, Flamengo não consegue achar um patrocínio. Foto: Jorge WilliamRIO - No Dia dos Namorados, domingo, completaram-se cinco meses da apresentação de Ronaldinho Gaúcho na Gávea, festa para 20 mil pessoas que celebrizou a união tratada de forma superlativa, sob o slogan "o melhor no maior clube do mundo". A lua de mel com a torcida aos poucos foi perdendo força pela falta de brilho do camisa 10 de um time ainda em formação. O casamento é estável, nem de longe qualquer das partes fala em divórcio, mas, tanto tempo depois, o dote ainda não chegou.
Desde que o contrato com a Batavo se encerrou, no fim de janeiro, o Flamengo ainda não conseguiu um patrocinador para o uniforme agora vestido por Ronaldinho Gaúcho, investimento que é peça fundamental da engrenagem movida para trazer o craque. Atualmente, o clube vende espaço nas mangas e no número do uniforme, e recebe por isso R$ 10,5 milhões por ano. Com o patrocinador principal da camisa, o clube espera chegar à cifra de R$ 30 milhões em seus cofres anualmente. O que exceder este valor será dividido entre Ronaldinho (50%), Traffic (40%) e Flamengo (10%), segundo acordo feito na época da contratação.
'Cobertura na Vieira Souto'
Maior empresa de marketing esportivo do país, a Traffic é o financiador desta engrenagem, responsável pelo pagamento de cerca de R$ 1 milhão mensais ao camisa 10. Como uma corretora, a Traffic é que vai ao mercado, em nome do Flamengo, atrair interessados em expor sua marca no manto sagrado.
O presidente da empresa, Júlio Mariz, afirma que as dificuldades em se conseguir um patrocinador já eram esperadas, e que a ideia de que a simples contratação de Ronaldinho Gaúcho pelo Flamengo geraria automaticamente uma chuva de propostas de patrocínio eram expectativas muito otimistas. Segundo o empresário, alguns fatores contribuem para a demora no fechamento de um acordo: o alto valor do contrato (a exigência do Flamengo é de algo próximo de R$ 20 milhões), os jogos pouco atrativos do primeiro semestre rubro-negro, e a intenção do clube de firmar um acordo de longo prazo.
Apesar de já estar bancando Ronaldinho no Flamengo há meses sem começar a ter retorno financeiro para a empresa ou para o clube, a Traffic aposta que fez um grande negócio.
- A gente já sabia que não ia ser fácil. É um risco calculado. Ronaldinho no Flamengo é um projeto de quatro anos, passaram-se só alguns meses. Há uma ansiedade, mas as coisas não funcionam assim. É um valor muito alto. E pretendemos fechar por dois, três anos. Ninguém assina um contrato desse do dia para a noite. É mais difícil vender uma cobertura na Vieira Souto do que um apartamento menor dentro do bairro. Se outros clubes que estão fechando patrocínio com mais facilidade, você pode ter certeza que é por um valor bem menor - afirma Júlio Mariz.
Só uma oferta até agora
A demora em encontrar um patrocinador faz o Flamengo baixar sua expectativa. No início do ano, o clube projetava arrecadar mais de R$ 25 milhões só com o patrocinador principal da camisa. Atualmente, ficará satisfeito se fechar por R$ 20 milhões, valor próximo do que recebia da Batavo até janeiro último. Até agora, o clube só recebeu, via Traffic, uma oferta concreta, de uma montadora de carros multinacional. A conversa esfriou depois que a empresa baixou sua contraproposta para R$ 17 milhões anuais, valor pelo qual o clube preferiu não fechar negócio. Como metade do ano já se passou, o Flamengo sabe que não arrecadará mais que R$ 10 milhões em 2011.
- Nós somos uma corretora, a decisão de fechar ou não caberá sempre ao Flamengo. O clube cobra caro porque vale muito mesmo. O calendário brasileiro é mais atrativo a partir de abril, com o Brasileiro. É só ver que o Flamengo praticamente só pegou times de segunda linha no Estadual e Copa do Brasil - completa Mariz, para quem o fato de Ronaldinho não estar brilhando em campo pouco interfere. - Não faz diferença ele estar jogando bem ou não agora. Estamos vendendo um contrato longo, o Flamengo é um time que garante muita exposição.
A Traffic atua ainda em outros dois projetos dentro no Flamengo: a transformação do programa de sócio-torcedor, ainda sem previsão de lançamento para as próximas semanas, e um novo projeto de difusão da marca do clube nas redes sociais.
Por enquanto, Ronaldinho Gaúcho segue sendo uma dupla aposta: a paciência dos torcedores que esperam uma subida de rendimento em campo é proporcional à dos dirigentes no aguardo de uma empresa que financie o negócio.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Para transmitir Rio-2016, NBC paga só R$ 71 milhões a mais








08/06/2011 - 06h30

MARIANA BASTOS
DE SÃO PAULO

Em um cenário de recessão econômica, a emissora americana NBC não precisou oferecer muito mais do que desembolsou para os Jogos de Londres-2012 para garantir também os direitos de transmissão da Rio-2016.
Para ter a Olimpíada brasileira em sua tela, a NBC pagará US$ 1,226 bilhão (R$ 1,937 bilhão) ao COI (Comitê Olímpico Internacional). A quantia é só 3,8% --ou R$ 71 milhões-- superior à oferecida pelos Jogos ingleses.
Entre Pequim-2008 e Londres-2012, o crescimento foi bem mais acentuado: 32%.
A oferta moderada para transmitir a Olimpíada do Rio é um reflexo do prejuízo obtido nos Jogos de Inverno de Vancouver-2010. No evento, a NBC arcou com perdas de US$ 223 milhões (R$ 352 mi) em meio à crise no EUA.
E as projeções para as receitas em 2012 também não são muito animadoras.
Em meio a esse cenário pouco otimista, o COI ofereceu às TV americanas a opção de adquirirem quatro Olimpíadas --Inverno (2014 e 18) e Verão (2016 e 20).
Por esse pacote, a NBC ofereceu US$ 4,38 bilhões (R$ 6,92 bilhões) e superou propostas de Fox e ESPN. Os direitos para o mercado americano, de longe a maior fonte de recursos do comitê e do Movimento Olímpico, envolvem TV, celular, banda larga e qualquer outra tecnologia que venha a ser inventada.
Dentro do pacote, chama a atenção o valor que será pago para transmitir a Olimpíada de Inverno de Sochi-2014. A emissora gastará US$ 775 milhões, US$ 45 milhões a menos do que pagou pelos direitos de Vancouver-2010.
Desde que começou a transmitir Olimpíadas, em Seul-1988, esta é a primeira vez que a NBC diminui o valor pago pelos direitos de uma edição subsequente.
Apesar disso, o COI comemorou ontem, em uma teleconferência, o acerto com a emissora americana, principalmente por já ter receitas garantidas para os Jogos de Inverno de 2018 e de Verão de 2020, cujas cidades-sedes ainda não foram definidas.
"Acreditamos que a natureza de longo prazo desse acordo não só irá garantir a fantástica cobertura das Olimpíadas nos EUA, como também dará mais estabilidade financeira ao Movimento Olímpico como um todo", disse ontem Richard Carrión, membro do Comitê Executivo do COI que negociou os direitos de transmissão.
"Foi estrategicamente importante firmar uma longa relação e ter os quatro Jogos", disse Brian Roberts, presidente da Comcast, empresa que controla a NBC.
Extremamente criticada nos EUA durante os Jogos de Pequim por não ter exibido ao vivo algumas das principais competições, a NBC garantiu que isso não ocorrerá novamente --deve transmitir por celulares ou internet.
"Nós disponibilizaremos todos eventos, em uma plataforma ou outra, ao vivo", garantiu Mark Lazarus, editor de esportes da emissora.

domingo, 5 de junho de 2011

Planajamento: arma contra o vazio


Ex-jogadores alertam para os riscos que o fim da carreira representa para a mente e apostam: Petkovic foi craque até nesta hora

Carlos Eduardo Mansur

Assim como os passos de sua carreira, Petkovic parece ter planejado meticulosamente o que seria de sua vida pós-futebol. Empresário no Brasil e na sérvia, investidor, presidente da Câmara de Comércio Brasil Sérvia, embaixador do Flamengo. Quando acordar amanhã e não for mais jogador de futebol, ele poderá ter vários sentimentos, mas provavelmente escapará do mais perigoso: o vazio. Ex-jogadores relembram o quanto as primeiras horas do pós-futebol são difíceis, o quanto é dura a experiência de não sentir mais a adrenalina da competição e a ovação das multidões. Ainda mais para quem defendeu clubes de massa como Flamengo e Corinthians, rivais de hoje. Mas estes ex-craques veem no sérvio um exemplo de final bem planejado.

Em entrevista à revista “Placar” deste mês, Casagrande, ex-rubro-negro e corintiano, atribui, em parte, a intensificação de sua dependência das drogas à forma de encarar o fim da carreira. Ele diz que “se ferrou” ao tentar preencher, através do vício, o vazio deixado pelo fim da trajetória como jogador de futebol.


Ocupação no dia seguinte


Uma realidade um pouco distinta viveu Sócrates, ídolo no Corinthians e com passagem pelo Flamengo, já mais perto do fim da carreira. Embora soubesse que a medicina seria seu caminho natural, o “doutor” admite que amanhecer sem ser mais um jogador não é simples. E vê vários fatores como variáveis na reação à nova vida.

— O sujeito, quando acaba a carreira, não está perdendo um emprego. Ele perde o trabalho, a profissão. Não é simples. E o mais complicado é se reenquadrar no mercado de trabalho. Você imagina o cara deixar de ser ídolo no futebol para virar pedreiro? Então, tudo depende muito de sua formação familiar, da possibilidade que o jogador tenha tido de se qualificar para a vida. E a gente sabe que a maioria não teve isso — disse Sócrates.

Assim que decidiu não jogar mais, Sócrates tinha a noção de que, de imediato, não poderia começar a exercer a medicina. Antes de montar sua clínica, fez entre quatro e cinco anos de residência num hospital. Algo como um começar de novo. Ele admite que a experiência de não ter mais a idolatria ao seu redor, apesar de seguidas manifestações de carinho de torcedores saudosos, é traumática. Afinal, por volta dos 30 e poucos anos, em qualquer outra profissão, o homem estaria no auge de sua capacidade produtiva:

— O fundamental é entender que o futebol é um meio virtual. Quando acaba, aquele personagem deixa de existir.

Longevidade no auge


Sócrates, por causa de lesões e da queda natural para um atleta, não era o mesmo quando decidiu parar de jogar. No entanto, há casos de longevidade em alto nível quase o tempo todo. E, neste aspecto, poucos no futebol brasileiro se equivalem a Júnior. Jogou até os 39 anos e, um ano antes da aposentadoria, comandou o Flamengo na conquista de um título brasileiro.

— Eu tive um treino diferenciado no final e achei formas de render em campo. Era uma diversão, um prazer, não queria mais provar nada a ninguém. Até que, num treino, o Marcelinho Carioca partiu três metros atrás de mim e chegou dois na frente. Para quem tinha voltado ao Brasil para jogar um ano, pelo meu filho... Fiquei quatro e ganhando títulos — recorda Júnior que, chamado para a seleção em 1991, poderia ter adiado o final em nome de mais uma Copa do Mundo. — Até que, uma vez, num ônibus, indo para um jogo em Wembley, Parreira e Zagallo disseram que na Copa de 94 nenhum outro país teria um jogador de 40 anos. Achei uma desculpa absurda, uma forma de não me ter no grupo. Poderia ter ido, se não como titular, ao menos ajudando o grupo.

Júnior achou na praia a cura para o seu “vazio”.

— Você precisa se preparar, ter algo para te preencher. As primeiras semanas são complicadas. Eu tive o beach soccer que, se não era profissional, tinha uma dose de compromisso. E vieram trabalhos como treinador e logo os comentários na TV. Isso ajudou — disse Júnior.

Andrade, por sua vez, jogou enquanto o corpo suportou. Ainda que tivesse que terminar uma carreira de cinco títulos brasileiros como jogador, conquistados por Flamengo e Vasco, defendendo clubes como Internacional de Lages, Desportiva, Bacabal e Barreira.

— Foram experiências novas, vi o outro lado do futebol. Não tenho problemas com isso, mas convivia com muito improviso. Você toma esta decisão por um pouco de tudo: o prazer de jogar e até por ainda precisar de alguma coisa na parte financeira — admite ele, que jogou até os 38 anos. — Só que, eu jogava, o joelho inchava. Eu treinava, o joelho inchava. Antes que falassem que eu estava roubando, entendi o sinal do corpo.
Jornal: O GLOBOAutor:  
Editoria: EsportesTamanho: 854 palavras
Edição: 1Página: 4
Coluna:Seção:
Caderno: Caderno de Esportes

Brasil é um anfitrião refém das exceções


SÉRIE: BRASIL QUE POUCO REVELA

Sem uma política pública para o esporte, país-sede dos Jogos Olímpicos-2016 tem metas ambiciosas para o quadro de medalhas, mas ainda se vê dependente de talentos individuais esporádicos, como Cesar Cielo




Ary Cunha, Carol Knoploch
e Sanny Bertoldo

Previsões de orçamento e organograma de obras à parte, a meta para o quadro de medalhas na Rio-2016 já está traçada e, para os nossos padrões olímpicos, não tem nada de modesta. Pelas projeções do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), o Brasil quer ficar entre os dez melhores países na classificação geral dos Jogos Olímpicos dos quais será sede. Fazendo uma comparação prática, significa dizer que teria de ocupar o lugar que foi da Ucrânia em Pequim-2008, com 27 medalhas no total, sendo sete de ouro. Isso é quase o dobro das 15 que a delegação verde-amarela trouxe de volta na bagagem, sendo três de ouro, além do 17º lugar no quadro de medalhas.

Em um país sem uma política pública para o esporte, mas onde os recursos federais jorram de forma crescente — só através da Lei Piva foram R$142 milhões no ano passado —, a fábrica de talentos de primeira linha só produz em larga escala no futebol, a verdadeira paixão nacional, e no vôlei. Fora isso, são raros ídolos de primeira grandeza e muitos talentos que se perdem pelo caminho. É o Brasil que pouco revela, como vai mostrar a série de reportagens aos domingos que O GLOBO inicia hoje.

— A estrutura do Brasil é bem fraca, não tem o básico, o mínimo para desenvolver o esporte — critica Cesar Cielo, único atleta brasileiro a reinar absoluto em sua modalidade desde as últimas Olimpíadas. — É difícil apontar os “medalháveis” para 2016. Tem o vôlei, a natação, e destacaria também o judô.

Cultura coletiva

Para o superintendente executivo do COB, Marcus Vinícius Freire, não basta apenas julgar o sucesso de um ciclo olímpico pelo número de medalhas conquistados. Segundo ele, é preciso levar em conta a evolução do Brasil em número de finais disputadas, além do fato de, tradicionalmente, a prática esportiva no país ser muito mais voltada para modalidades coletivas.

— O Brasil tem uma cultura de esporte coletivo que não podemos negar. Gastamos dinheiro, trabalhamos e investimos em vôlei, basquete, futebol, handebol, masculino e feminino — analisa ele. — Então, vale lembrar que, dos 277 caras que foram a Pequim nesses esportes, mais de um terço da delegação participou de uma final olímpica (41 finais, com 106 atletas brasileiros envolvidos). Precisamos continuar ganhando nas modalidades em que temos história, como vôlei, vôlei de praia, iatismo, judô, futebol, natação e atletismo. E temos que achar outras seis modalidades que possam ganhar medalha para ficarmos entre os dez.

Bronze em Atlanta-1996, a ex-atacante de vôlei Ana Moser acredita que o quadro de medalhas reflete os erros na formação de talentos, mas ressalta que o legado esportivo de 2016 precisa ser bem mais amplo do que um lugar entre potências olímpicas.

— Eu terei vergonha se chegarmos em 2016 com um Brasil onde apenas 20% das crianças praticam atividade física, que é a estatística atual — dispara. — A gente não tem um sistema de desenvolvimento de atletas. Quem surge é algo eventual. O vôlei só é exemplo lá em cima. É uma elite desenvolvida. Infelizmente, nossa cultura esportiva tem de mudar. Não está presente nas escolas, nas famílias e na cabeça dos governantes.

Crítico ferrenho da distribuição desigual de recursos entre as modalidades, o presidente da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), Alaor Azevedo, é outro a defender uma mudança radical em todos os níveis.

— Falta uma política pública para o esporte. Não se definiu no Brasil se o esporte vai ser praticado em clubes ou na escola. Essa é a primeira coisa a ser feita, de cara. Nos Estados Unidos, tudo vai da escola para a universidade. Na França, os atletas surgem nos clubes. Por aqui, até há pouco tempo, seis modalidades detinham 80% do dinheiro público, entre patrocínios estatais e Lei Piva — afirma. — Talentos surgem o tempo todo, mas a maioria acaba não sendo aproveitada. No Brasil, o atleta de ponta acaba sendo um acaso. Não é regra, é exceção.

Tão surpreendente como o surgimento de um Gustavo Kuerten num país de poucos investimentos na formação de tenistas, é a ascensão da campeã mundial indoor do salto com vara, Fabiana Murer. Nos dois casos, boa parte dos méritos deve ser atribuída à persistência de seus técnicos: Larri Passos, no caso de Guga, e Elson Miranda. O treinador e marido da saltadora revela um dado que deveria incentivar a prática esportiva maciça: nem todo talento é nato.

— A Fabiana Murer não era uma exceção quando começou a saltar — admite Miranda, que cansou de tirar dinheiro do próprio bolso para manter o trabalho com a atleta. — Ela foi treinada e desenvolvida, mas demorou dez anos para começar a ter nível internacional. Assim como ela surgiu e pode ser medalha nas Olimpíadas de 2012, outros poderiam surgir.

O exemplo Guga está aí para provar que nem sempre o surgimento de ídolos no Brasil consegue impulsionar de vez uma modalidade.

— Vivemos de ídolos esporádicos. Temos uma gestão efeito cascata, que vem de cima para baixo, onde cada um faz o que acha certo e vai levando. Sofremos com apoios apenas em anos importantes e não conseguimos vislumbrar algo a longo prazo. Em esportes sem história, sem atletas vencedores, com os quais eu trabalho hoje, é bem mais difícil. Um espelho gera mobilização maior. Mas é fato que o esporte vive de ídolos esporádicos e que, às vezes, não consegue explorá-los — admite a ex-jogadora de basquete Magic Paula, prata em Atlanta-1996, e que hoje comanda um programa de patrocínio estatal a cinco confederações que jamais tiveram um grande incentivo (boxe, levantamento de peso, taekwondo, esgrima e remo).

Timidez na iniciativa privada

A distribuição de recursos do Ministério do Esporte é alvo de críticas até mesmo de outros órgãos públicos, como o Tribunal de Contas da União (TCU). Numa auditoria divulgada em fevereiro, o tribunal alertou para a diminuição dos investimentos nos principais projetos voltados ao esporte de alto rendimento. E também condenou o fato de boa parte dos recursos do Bolsa Atleta (33%) serem voltados para modalidades não olímpicas e desconhecidas, como kung fu, kickboxing, bocha, luta de braço e até punhobol. Mas há quem lembre que, pior do que os critérios questionáveis de divisão da verba federal, é o apoio excessivamente tímido da iniciativa privada.

— A Lei de Incentivo Fiscal é um belo projeto de intenção. Mas é mal aplicado, porque as empresas não promovem estes projetos. Não sabem e o governo não ensina a usar. O medo e o desconforto com a burocracia de trabalhar com algo do governo impedem muita empresa de entrar no negócio — diz o ex-nadador Gustavo Borges, dono de quatro medalhas olímpicas.

Quem conhece de perto o trabalho de uma grande potência olímpica sabe que ainda há muito a ser feito. E, o mais grave: que já pode ser tarde para acreditar num divisor de águas em 2016. Medalhista de ouro nos 800m em Los Angeles-1984 e prata em Seul-1988, Joaquim Cruz atualmente treina a equipe paraolímpica de atletismo dos Estados Unidos. Ele vê o Brasil caminhando a passos lentos.

— Está tarde para 2016, sim. Podemos dar vexame, mas também alegrias. O ideal é trabalhar com dez anos de antecedência, mas não podemos desistir. Que tudo isso seja o início. Não temos esporte nas escolas, não temos políticas esportivas e não temos cultura de campeonatos fortes anuais... Fica difícil.
Jornal: O GLOBOAutor:  
Editoria: EsportesTamanho: 1321 palavras
Edição: 2Página: 7
Coluna:Seção:
Caderno: Caderno de Esportes