quinta-feira, 1 de setembro de 2011


A Espanha de hoje é o Brasil de amanhã ?


No momento em que sua seleção atravessa o momento mais brilhante de sua história, o futebol espanhol caminha célere para a bancarrota.


A Espanha é o grande paradoxo do futebol moderno. Escrevi um post há poucas semanas atrás, em que o presidente do Sevilha, Del Nido, antes mesmo da Liga começar, referia-se à mesma como “Liga de mierda”. Essa semana, após o cartão de visitas do que será essa enfadonha Liga, com goleadas arrasadoras dos dois papões, o presidente do Villareal, Francisco Roig, foi duro nas declarações e reafirmou que o futuro do futebol espanhol é sombrio.
Com efeito, o futebol espanhol possui a divisão de recursos mais madrasta do futebol mundial. Enquanto Real e Barça juntos abocanham 300 milhões de euros em direitos de transmissão, 8 dos 20 clubes recebem de 12 a 17 milhões cada. Um abismo colossal. O poder de fogo dos outros participantes são balas de borracha contra as bazucas dos 2 gigantes. A consequência, é que no afã de lutar contra massacres previsíveis e montar times minimamente competitivos, os rivais tomam empréstimos e assumem dívidas imensas para, pelo menos, tentar evitar goleadas humilhantes. No decorrer de alguns anos, tornaram-se totalmente inadimplentes, não apenas com fornecedores e com o fisco, mas principalmente com os próprios jogadores, que em muitos desses clubes chegam a estar de 3 a 4 meses sem receber salários.
Na Espanha existe um mecanismo legal chamado de “Lei Concursal” que permite aos clubes, como uma espécie de concordata, disputar o campeonato, mantendo em suspenso o pagamento dos salários. Com a quantidade de clubes em dificuldades, os jogadores se reuniram e impediram o início da Liga até que alguma coisa fosse feita. E foi. Entretanto, foram apenas medidas paliativas, que não impedirão a bancarrota futura, mas prorrogam a agonia. Criaram um fundo especial que será formado e gerido pela Associação de Futebolistas, cujos recursos socorrerão os jogadores em dificuldades, que terão um prazo de até 4 anos para retornar o empréstimo. Permitirão que jogadores com atrasos salariais a partir de 3 meses possam se desvincular sem ônus do clube inadimplente, e a garantia de que os salários em atraso serão devidos mesmo que o clube seja rebaixado. Porém, a razão das distorções segue “imexível”. Comparando a Espanha com a Inglaterra percebe-se porque a Premier a cada ano se fortalece, ao contrário da liga ibérica. Na ilha, o clube que mais recebe direitos de TV, o Manchester United, receberá esse ano uma quantia aproximada de 60 milhões de libras, enquanto o menorzinho, o calouro Blackpool, receberá cerca de 28 milhões. Quase a metade. Isso permite um fôlego aos pequenos proporcionando um equilíbrio maior de fôrças e jogos mais atraentes. Claro que os nanicos não serão campeões, nem na Inglaterra nem em lugar algum, mas será difícil que na Premier em sua reta final, tenhamos 2 clubes com quase 100 pontos, e o terceiro com 70, como na Espanha.
Aqui no Brasil, o modelo espanhol já está sendo montado. Em 5 anos, Corinthians e Flamengo poderão receber em aportes de TV algo em tôrno de 300/350 milhões de reais a mais que vários outros “grandes”. O abismo estará sendo irremediávelmente escavado. Alguns argumentam que é assim mesmo, livre concorrência, seleção natural dos mais fortes, e blá blá blá. Não acredito que um modelo que alije do mercado milhões de torcedores de clubes “grandes” no presente, e meros coadjuvantes no futuro, seja benéfico para o mercado esportivo brasileiro.
Mas,é claro, sempre existem os “satisfeitos”. Perguntado sobre o que pensava sobre as queixas (que aqui no Brasil seriam chamadas de “chororô”) do presidente do Sevilha, o jogador Sérgio Ramos do Real Madrid e da seleção espanhola, disparou:
“Se ele não está satisfeito com essa Liga, que trate de procurar outra !”.
Na testa, e à queima roupa. Tomara que algum dia ele não precise jogar no Levante.

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