sábado, 8 de setembro de 2012

Título para tirar o slackline da corda bamba



por Renato de Alexandrino - 
08.09.2012
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19h21m


Enquanto andava de skate despretensiosamente pela orla de Ipanema dois anos atrás,Igor Zambelli viu uma galera se divertindo tentando se equilibrar em uma fita presa entre duas árvores. Curioso, pediu para tentar e, no fim do dia, já estava atravessando toda a extensão da fita. A brincadeira virou um vício e na semana seguinte Igor já tinha comprado sua própria fita. O skate ficou guardado em casa, as ondas da praia do Leme perderam um bodyboarder e o Brasil ganhou um campeão mundial. Mistura de talento nato e dedicação, Igor se tornou, no fim de semana passado, na Áustria, o primeiro brasileiro a vencer uma etapa da Copa do Mundo de Slackline

— Quase chorei na hora. Nem acreditei que tinha ganho. Acho que a ficha só caiu mesmo quando entrei no Facebook e vi as centenas de mensagens de parabéns de amigos e de gente que eu nem conhecia — diz Igor, de apenas 18 anos.
FOTOGALERIA: Imagens de Igor e amigos treinando na Praia do Pepê

A aventura do carioca pelas fitas austríacas começou com um esquema estilo "Big Brother". Como nunca tinha disputado nenhuma etapa, Igor não tinha ranking para participar da competição. A saída era gravar um vídeo mostrando suas manobras para concorrer a um dos quatro convites para o campeonato. O autor do melhor clipe ainda ganharia um pacote completo, com passagens, hospedagem e alimentação. Igor venceu e, com tudo bancado, foi para a Áustria competir.

— Eu era desconhecido e logo de cara, na primeira bateria, enfrentei um dos favoritos, o italiano Lukas Huber, número 3 do mundo. Nem eu sei o que fiz para ganhar! Acertei todas as manobras que tentei — recorda Igor, que depois passou por dois alemães (Luis Meier e Benni Schmid) até fazer a final contra o americano Alex Mason, atual líder do ranking.

— Entrei relativamente tranquilo na final, porque já tinha feito minha parte e estava no pódio. Claro que queria ganhar, mas queria também me divertir e fazer o meu show. Consegui vencer, mas só acreditei quando deram o cheque do segundo lugar para o americano. 
De volta ao Brasil, entre saltos mortais para a frente e para trás, entre muitas outras manobras, Igor se depara agora com a realidade de um esporte ainda incipiente, que dá seus primeiros passos e tenta se estabelecer. Sem associações e federações, as competições são escassas e viver de slackline ainda é um sonho.

— Quero viajar o mundo, quero patrocínios para poder me dedicar. Os americanos são os melhores, mas temos condições de chegar. O nível está muito próximo. Só falta incentivo. Falta alguém organizar o esporte aqui — pede Igor.

O crescimento do slackline, porém, é inegável. Segundo Gabriel Brown, 23 anos, um dos criadores da equipe Nokaya Slackline, que conta com os principais atletas do esporte, o número de praticantes aumenta a cada ano.

— É um esporte praticado por gente jovem, que trabalha muito a mente e o corpo. Merece investimento. Com a evolução do trickline (com a execução de manobras sobre a fita), que começou a surgir no Brasil em 2010, o esporte cresceu ainda mais, com mais gente querendo praticar. A prova é que em dois anos já temos um campeão mundial.

Em uma cidade que é um berço natural para atividades ao ar livre, não é difícil acreditar que o slackline, que precisa apenas de dois pontos fixos e uma fita amarrada entre eles, ganhe espaço no coração dos cariocas. Já há um projeto para a instalação em algumas praias de ‘slack points’ — postes fixos para a prática do esporte, nos moldes dos postes de vôlei de praia.

— Muita gente vê o slackline como uma brincadeira, mas já é um esporte. Não perdemos em nada para os gringos em locais de treinamento. Precisamos apenas de investimento, e esse título do Igor pode ajudar a abrir as portas — acredita Gabriel Aglio, 19 anos.

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