sábado, 21 de setembro de 2013

Agora é com a Presidente

Aprovada, MP 620, para modernizar a gestão esportiva, deve ser sancionada por Dilma Rousseff em outubro e mexe com cartolas
Victor Costa
ESPORTES OLÍMPICOS A expectativa é que a presidente Dilma Roussef sancione, na primeira semana de outubro, uma emenda à Medida Provisória 620 que será um marco no modelo de gestão esportiva do país. Ela foi aprovada pelo Senado, por unanimidade, na última terça-feira, e visa a modernizar e a dar transparência às gestões de clubes e confederações esportivas que tenham isenções fiscais ou recebam recursos públicos. A limitação de até quatro anos do mandato dos dirigentes, com direito a apenas uma reeleição, é o ponto mais polêmico do texto. A resistência a essa iniciativa já era esperada, tendo em vista que casos de sucessivas reeleições são comuns nas principais confederações esportivas do país. De acordo com a ex-jogadora de vôlei Ana Moser, no entanto, novas ideias são essenciais: - É preciso ter rotatividade no poder. 
A emenda é um caminho para novas ideias. Precisamos ter mais pessoas pensando o esporte nesse país. Não podemos deixar isso na mão de poucas pessoas por tanto tempo. O ex-velocista Robson Caetano faz coro a Ana Moser: - Mudanças são necessárias. A perpetuação do esporte na mão de uma única pessoa por anos não é salutar. Tanto Ana quanto Robson são da Atletas pelo Brasil, que há três anos pensa em melhorias para o esporte nacional. Foi a organização sem fins lucrativos, formada por atletas e ex-atletas de diversas modalidades, que levou a proposta ao deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), o responsável por apresentar a emenda. Se a iniciativa tem grande força entre os competidores, esbarra em velhos conhecidos do esporte nacional. 
- Eu sou totalmente contra. E posso falar isso porque já anunciei que esse é o meu último mandato. Depois de Rio-2016, eu saio - esbraveja Coaracy Nunes, presidente da Confederação de Brasileira de Esportes Aquáticos desde 1988. - Quando o presidente é exitoso, ninguém tira ele de lá. Quando o cara é ruim, o próprio sistema o expurga. Basta você conferir no COB quantos presidentes saíram de suas confederações nos últimos anos. São muitos. Não sou hipócrita. Se o cara é bom não deveria ter limite de mandato nem tempo. Robson e Ana não concordam com Coaracy. Para eles, é preciso ter rotatividade, mesmo que o trabalho seja bem feito. Ex-jogadora de uma das entidades mais elogiadas no Brasil, Ana questiona os resultados da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), que esteve nas mãos de Ary Graça desde 1997 e que, no ano passado, foi passada para Toroca, que já ocupava a vice-presidência da entidade há 28 anos: 
- O vôlei produz bons resultados a nível de seleção. Mas se perguntar quantos times disputam o estadual do Rio... Esse número não deve passar de seis. Se no Rio é assim, imagina como deve ser o estadual de Mato Grosso. Somos um país de 200 milhões de habitantes e temos apenas pouco mais de mil clubes no Brasil - diz ela, argumentando. 
- Com os patrocínios que a CBV tem, é muito fácil montar uma estrutura que alimente uma seleção vencedora. Mas ninguém está interessado em pegar o recurso da Lei Piva e investir no esporte do estado. 
Atletas e transparência 
Apesar da polêmica estar toda em cima da questão dos dirigentes, esse não é o ponto mais importante da emenda. Para Ana, a participação dos atletas nas eleições de suas respectivas confederações é tão essencial para a evolução do esporte quanto o fim dos mandatos que ultrapassam décadas. 
- Depois de muito tempo é que conseguimos criar uma comissão de atletas na Superliga para discutir os rumos do principal campeonato de vôlei do país. E não pode ser assim. Os atletas precisam ter voz dentro do esporte. Não podemos deixar tudo nas mãos das confederações e federações - pensa a ex-jogadora de vôlei. De acordo com o deputado Goergen, a questão dos mandatos chamou mais atenção que outros pontos, devido ao lobby feito pelas entidades esportivas dentro governo contra a proposta. 
- No entanto, a emenda não se resume a isso. Os atletas precisam ter mais participação no rumo esportivo do país e é necessário ter mais transparência para aqueles que se beneficiem do dinheiro público - diz ele, por telefone, também falando como cidadão. - Sou torcedor fanático do Internacional (RS). Sou sócio, vou aos jogos... Com a transparência exigida pela emenda, eu vou poder saber para onde foi o dinheiro que eu gastei com a mensalidade e o ingresso, por exemplo.

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