sexta-feira, 14 de setembro de 2012

É difícil fazer futebol profissional no Brasil



Com a maior parte dos cartolas formalmente amadora, o futebol profissional brasileiro patina com públicos vergonhosos.
Na 24a. rodada do Brasileirão terminada ontem isso ficou mais uma vez claro.
Houve três jogos com públicos simplesmente ridículos.
No Canindé, embora com a presença do líder do campeonato, apenas 3.600 torcedores para Portuguesa e Fluminense.
Em São Januário, com o quarto colocado Vasco, num clássico nacional contra o Palmeiras, apenas 2 mil.
E, no gigantesco Serra Dourada, onde cabem 55 mil torcedores, apenas pornográficos 700 pagantes para Atlético Goianiense e Coritiba.
Resultado: a média de público ficou na casa dos 10 mil torcedores por jogo, com o maior público, mais uma vez, e por incrível que pareça, para o Corinthians, que não disputa nada no Brasileirão, contra a Ponte Preta, com 20 mil pagantes no Pacaembu.
E sabe o que CBF faz diante disso?
Rigorosamente nada, nenhuma promoção, nenhuma preocupação, ou pior, mantém os campeonatos estaduais intactos, obrigando o Brasileirão a ter intermináveis rodadas em meios de semana.
Estaduais que, diga-se, têm média, no máximo, de 5 mil torcedores por jogo.
Somos mesmo o país do futebol?
***
Colaboração de Gustavo Pereira


Fórmula 1 para crianças


sáb, 14/07/12

por Rafael Lopes |
categoria Fórmula 1GameVídeos


A Codemasters, programadora responsável pelos games da Fórmula 1, vai lançar uma novidade destinada às crianças em novembro. O game “F1 Race Stars” traz os pilotos da Fórmula 1 como personagens de desenho animado. Confira abaixo alguns deles e assistam ao trailer acima!
Alonso e Vettel
Hamilton e Rosberg

sábado, 8 de setembro de 2012

Pesquisa coloca Flamengo como maior torcida do mundo; Corinthians é a quarta


Por ESPN.com.br

VIPCOMM
Torcida do Flamengo é a maior do mundo, aponta estudo
Torcida do Flamengo é a maior do mundo, aponta estudo
A maior torcida do Brasil agora ganhou o status de também maior torcida do mundo. Pelo menos é o que aponta um levantamento feito pela agência argentina de marketing Gerardo Molina/Euromericas divulgado nesta segunda-feira no jornal “Cronista”. Segundo a pesquisa, o clube carioca tem 39,1 milhões de torcedores, superando Chivas e América, ambos do México, que têm 33,8 mi e 29,4 mi, respectivamente.

Outro time brasileiro que aparece entre os cinco primeiros colocados em termos de torcida foi o Corinthians, que figura na quarta colocação do ranking, com 28 milhões. Dos clubes europeus, o primeiro a aparecer na lista é a atual campeã italiana, Juventus, com 26,3 milhões de torcedores, ocupando o quinto lugar.

O estudo foi divulgado nesta segunda e reuniu diversas pesquisas realizadas nos principais países do mundo, como Brasil, Argentina, México, Espanha, Alemanha, Itália, Inglaterra, Portugal, França, Holanda e Japão. De acordo com a agência Gerardo Molina/Euromericas, consultorias da própria empresa viajaram a todos esses lugares para fazer o levantamento, o que diminui a margem de erro do ranking.

O levantamento ainda aponta o Boca Juniors como o time de maior torcida da Argentina, com 46,8% dos torcedores do país, enquanto no Brasil, quem lidera essa estatística é o Flamengo, que conta com 25% do apoio entre todos os brasileiros.

Veja quais são os cinco times com maior torcida no mundo, de acordo com a agência Gerardo Molina/Euromericas:

1° Flamengo (Brasil) - 39,1 milhões
2° Chivas (México) - 33,8 milhões
3° América (México) - 29,4 milhões
4° Corinthians (Brasil) - 28 milhões
5° Juventus (Itália) - 26,3 milhões

Título para tirar o slackline da corda bamba



por Renato de Alexandrino - 
08.09.2012
 | 
19h21m


Enquanto andava de skate despretensiosamente pela orla de Ipanema dois anos atrás,Igor Zambelli viu uma galera se divertindo tentando se equilibrar em uma fita presa entre duas árvores. Curioso, pediu para tentar e, no fim do dia, já estava atravessando toda a extensão da fita. A brincadeira virou um vício e na semana seguinte Igor já tinha comprado sua própria fita. O skate ficou guardado em casa, as ondas da praia do Leme perderam um bodyboarder e o Brasil ganhou um campeão mundial. Mistura de talento nato e dedicação, Igor se tornou, no fim de semana passado, na Áustria, o primeiro brasileiro a vencer uma etapa da Copa do Mundo de Slackline

— Quase chorei na hora. Nem acreditei que tinha ganho. Acho que a ficha só caiu mesmo quando entrei no Facebook e vi as centenas de mensagens de parabéns de amigos e de gente que eu nem conhecia — diz Igor, de apenas 18 anos.
FOTOGALERIA: Imagens de Igor e amigos treinando na Praia do Pepê

A aventura do carioca pelas fitas austríacas começou com um esquema estilo "Big Brother". Como nunca tinha disputado nenhuma etapa, Igor não tinha ranking para participar da competição. A saída era gravar um vídeo mostrando suas manobras para concorrer a um dos quatro convites para o campeonato. O autor do melhor clipe ainda ganharia um pacote completo, com passagens, hospedagem e alimentação. Igor venceu e, com tudo bancado, foi para a Áustria competir.

— Eu era desconhecido e logo de cara, na primeira bateria, enfrentei um dos favoritos, o italiano Lukas Huber, número 3 do mundo. Nem eu sei o que fiz para ganhar! Acertei todas as manobras que tentei — recorda Igor, que depois passou por dois alemães (Luis Meier e Benni Schmid) até fazer a final contra o americano Alex Mason, atual líder do ranking.

— Entrei relativamente tranquilo na final, porque já tinha feito minha parte e estava no pódio. Claro que queria ganhar, mas queria também me divertir e fazer o meu show. Consegui vencer, mas só acreditei quando deram o cheque do segundo lugar para o americano. 
De volta ao Brasil, entre saltos mortais para a frente e para trás, entre muitas outras manobras, Igor se depara agora com a realidade de um esporte ainda incipiente, que dá seus primeiros passos e tenta se estabelecer. Sem associações e federações, as competições são escassas e viver de slackline ainda é um sonho.

— Quero viajar o mundo, quero patrocínios para poder me dedicar. Os americanos são os melhores, mas temos condições de chegar. O nível está muito próximo. Só falta incentivo. Falta alguém organizar o esporte aqui — pede Igor.

O crescimento do slackline, porém, é inegável. Segundo Gabriel Brown, 23 anos, um dos criadores da equipe Nokaya Slackline, que conta com os principais atletas do esporte, o número de praticantes aumenta a cada ano.

— É um esporte praticado por gente jovem, que trabalha muito a mente e o corpo. Merece investimento. Com a evolução do trickline (com a execução de manobras sobre a fita), que começou a surgir no Brasil em 2010, o esporte cresceu ainda mais, com mais gente querendo praticar. A prova é que em dois anos já temos um campeão mundial.

Em uma cidade que é um berço natural para atividades ao ar livre, não é difícil acreditar que o slackline, que precisa apenas de dois pontos fixos e uma fita amarrada entre eles, ganhe espaço no coração dos cariocas. Já há um projeto para a instalação em algumas praias de ‘slack points’ — postes fixos para a prática do esporte, nos moldes dos postes de vôlei de praia.

— Muita gente vê o slackline como uma brincadeira, mas já é um esporte. Não perdemos em nada para os gringos em locais de treinamento. Precisamos apenas de investimento, e esse título do Igor pode ajudar a abrir as portas — acredita Gabriel Aglio, 19 anos.

O futuro do 'estádio-nação'



Especialista na história das torcidas, Bernardo Buarque de Hollanda discute transformações na dinâmica dos espectadores e analisa conflitos entre organizadas

Por Pedro Sprejer
Professor-pesquisador do Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas e autor de estudos sobre o futebol na cultura brasileira, o historiador Bernardo Borges Buarque de Hollanda criou o termo “estádio-nação” para definir um modelo monumental de arena que materializou um desejo nacional de grandiosidade, integração e modernidade. Em entrevista ao GLOBO, ele analisa o esgotamento desse padrão e outros temas, como a gênese das torcidas organizadas.

Você cita a Arena da Baixada, estádio do Atlético Paranaense inaugurado em 1999, como a primeira expressão no Brasil de um novo modelo internacional de estádio, surgido a partir dos anos 90. O novo Maracanã e o Itaquerão parecem se basear nas mesmas concepções. Que modelo é esse e como ele está associado a uma nova economia do futebol?
 

É o modelo de estádio inglês, criado com a Premier League. Um exemplo emblemático: em 1993, o Liverpool pôs fim no seu estádio ao setor atrás do gol onde se situavam os torcedores mais fervorosos, reduto dos hooligans. Este local, desvalorizado pela precariedade do ângulo de visão, era o preferido dos jovens proletários britânicos. Era um espaço aberto, no qual se podia transitar livremente. Nos anos 1990, uma cirurgia arquitetônica instaurou os all-seater, isto é, uma nova concepção de plateia esportiva. Esta compartimenta as tribunas e atomiza os torcedores nas áreas internas das arenas esportivas, de modo a inibir a liberdade de circulação. Com isto, induz-se o torcedor a assistir sentado às partidas, segundo um paradigma de conforto, segurança e individualidade definido como positivo pelos gestores do futebol.
 

Com capacidade de público reduzida, áreas vip e megatelões de ponta, o novo Maracanã parece diferir de aspectos da concepção original do estádio, na década de 40, como o caráter monumental da construção e a capacidade de reunir uma massa formada por classes sociais heterogêneas. Tais fatores perderam relevância no momento histórico atual?
 

Para entendermos a nova acepção social do torcedor de estádio, é preciso entender a presença crescente de outro personagem: o telespectador. A televisão tornou prescindível o modelo de estádio paradigmático dos anos 1950, aquilo que chamo de “estádio-nação”. O critério de grandeza era predefinido pela capacidade de afluência do público, principal fonte de renda do futebol até os anos 1980. Para dar um exemplo: na final da Copa do Mundo de 1950, 10% da população carioca compareceram ao Maracanã. À medida que o telespectador se torna mais importante que o torcedor, não há mais razão para estádios de grande porte. A inversão é simples: menos lugares, valores mais altos. Os ingressos a R$ 60 levam a uma espécie de asfixia das classes menos favorecidas economicamente, que tendem a ver o jogo em casa ou nos bares. A tendência, portanto, é a seguinte: o futebol continuará um esporte televisivo popular no Brasil, ao passo que seus estádios sofrerão um processo de homogeneização, com a frequência preponderante da classe média.
 

A analogia entre um show de rock e um jogo com astros do futebol é feita pelos que justificam que o estádio deve ser para quem pode pagar mais pelo espetáculo. Na sua opinião, a torcida pode ser vista apenas como plateia, ou é parte indissociável do espetáculo?
 

A analogia parece apropriada, mas também vale acionar as imagens do estádio-teatro e do estádio-shopping. A torcida é a participação contínua ao longo do jogo. Não se trata de uma espera, mas de uma ação continuada, que se quer interventiva. A diferença fundamental entre a atividade da plateia esportiva e a passividade da plateia teatral foi o que fez Bertolt Brecht encantar-se com o boxe na Alemanha dos anos 1920. Ter o público como ator, e não como mero espectador, levou-o a elogiar a modernidade dos espetáculos esportivos. Mas por mais que seja constatada a tendência a elitizar, atomizar e individualizar a experiência de torcer nos estádios, é sempre possível subverter, recriar e carnavalizar as formas estandardizadas.
 

Você descreve, em suas pesquisas, como as torcidas organizadas cariocas se configuram, nos anos 40, a partir da incorporação de elementos dos desfiles das escolas de samba, como animação, música, uniformização e organização. A partir de quando a violência se tornou elemento constante nas organizadas?
 

Não se deve cair na armadilha de contrapor um passado idílico — supostamente pacífico — a um presente exclusivamente violento. Os distúrbios estão presentes nas praças de futebol desde seu surgimento, no início do século XX. Nos idos de 1920, um cronista referia-se a “arremedos de guerrilha”, ensaiados por torcedores rivais. Havia brigas dentro e fora dos estádios. Durante a pesquisa, o mais surpreendente foi descobrir que as organizadas foram criadas nos anos 1940 justamente para enquadrar e disciplinar o comportamento “desviante” dos torcedores nas arquibancadas. O chefe da torcida era o auxiliar do chefe da polícia. Havia o medo generalizado com a multidão e com a conduta do indivíduo no anonimato de estádios cada vez mais agigantados. Este sentido disciplinador das torcidas foi alterado ao longo dos anos 1970, quando estas se desmembraram em mais de uma associação de torcedores por clube.
 

Há um novo modelo de torcidas organizadas surgindo?
 

Os "movimentos" de torcedores, que surgiram no Rio em 2007, em contraponto às Torcidas Jovens, canalizaram boa parte da insatisfação com o modelo vigente de torcidas organizadas e procuram reatar o elo originário com o clube. São, em parte, congruentes com as transformações em curso na gestão do futebol e na remodelagem dos estádios, mas não estão imunes, com o tempo, a vivenciar as mesmas contradições: crescimento, aumento de poder, conflitos internos e apelos por dissidências.
 

O lugar do torcedor


  

No caminho para a Copa do Mundo de 2014, o Brasil investe na modernização dos estádios, mas ainda busca uma forma de combater a violência de facções organizadas. Em meio a planos de reformulação e antigos problemas, que cara terão as novas arquibancadas do país?

Por Pedro Sprejer
Nas últimas semanas, dois assuntos têm causado repercussão no universo futebolístico. O primeiro é o anúncio de que, em outubro, o governo estadual lançará, enfim, o edital para a concessão do novo Maracanã, que poderá ter Flamengo e Fluminense como parceiros da iniciativa privada na administração. Outro tema, discutido dos noticiários aos botecos, é a enérgica ofensiva do poder público contra a violência de torcidas organizadas no Rio e em São Paulo, suspensas e banidas dos estádios.

Quando sobrepostos, o renascimento do Maracanã reconfigurado, carro-chefe de uma série de novas arenas em construção para a Copa de 2014 (como o Itaquerão, em São Paulo), e o combate à violência nos estádios — e fora deles — sinalizam um momento de mudanças no futebol nacional. Nesse novo cenário, qual será o lugar do torcedor comum e do modo de torcer “à brasileira”?



De acordo com o historiador Bernardo Borges Buarque de Hollanda, autor de “O clube como vontade e representação: o jornalismo esportivo e a formação das torcidas organizadas de futebol do Rio de Janeiro” (7Letras), o primeiro registro de incidentes fatais entre torcidas no Brasil ocorreu em 1988, com o assassinato premeditado do presidente-fundador da palmeirense Mancha Verde. Sete anos depois, o rápido agravamento dos conflitos levou a Justiça paulista a banir torcidas violentas, após o episódio conhecido como “batalha campal do Pacaembu”, durante um jogo entre Palmeiras e São Paulo. No Rio, a mesma estratégia foi tentada na época. Nos dois casos, as medidas não tiveram o efeito esperado: as torcidas paulistanas ressurgiram como escolas de samba e as cariocas recuperaram na Justiça o direito a entrar nos estádios. 

No mês passado, após as mortes de um vascaíno e de um flamenguista, a Justiça suspendeu por seis meses a presença da Torcida Jovem do Flamengo e da Força Jovem do Vasco nos estádios do Rio. Ainda em agosto, 21 integrantes da Young Flu foram presos por agressão a torcedores vascaínos antes de um clássico do Campeonato Brasileiro. No último ano, mais de 370 torcedores foram presos no Rio, segundo dados do Grupamento Especial de Policiamento em Estádios (Gepe).
 

Para Buarque, medidas como essas podem ajudar a conter a “espiral de violência” entre torcidas e mostram a necessidade de um debate público sobre a relação entre as organizadas e os grandes clubes:
 

— Estamos vivendo os efeitos perversos deste tipo de política clubística — diz Buarque, lembrando que, desde os anos 1990, as instituições distribuem milhares de ingressos a torcidas organizadas. — Isso as fortaleceu e, ao mesmo tempo, as inchou. O agigantamento dessas torcidas fez com que elas se desmembrassem em subpoderes territoriais. Estes levaram os conflitos para longe dos estádios, mais precisamente para os bairros de origem dos torcedores.


Autor de “Ronaldo: glória e drama no futebol globalizado” (Editora 34), o historiador Jorge Caldeira atribui o aumento da violência no futebol a um “declínio civilizatório” ocorrido nas últimas décadas, dentro e fora dos estádios. Para Caldeira, ainda há uma grande indefinição sobre a forma como os gestores das novas arenas — pautadas pelas normas de conforto e segurança da Fifa — vão lidar com a questão. Torcedor da Portuguesa de Desportos, ele espera que as medidas para coibir a violência não passem pela elitização do estádio ou pela descaracterização de um modo de torcer à brasileira:

— Quem tem que ser protegido é o torcedor que quer se divertir, seja pobre ou rico. Isso precisa ser levado em conta por essas arenas. O grande torcedor da Lusa é o Sardinha, um cara cuja vida é ir para os jogos. O estádio não tem a mesma graça sem ele.
 

O paradigma mundial de controle da violência e dinamização econômica do futebol foi a transformação da Liga Inglesa, ocorrida a partir de fins dos anos 1980. A mudança radical nasceu de um trauma. Na verdade, uma tragédia anunciada: a morte de 96 torcedores asfixiados contra um alambrado em um superlotado Liverpool x Nottingham Forest, pela Copa da Inglaterra, em 1989.


Pondo fim a um longo declínio econômico e combatendo severamente o “hooliganismo”, o futebol inglês conseguiu, ao longo dos anos 1990, criar uma liga bilionária, turbinada pelo boom imobiliário dos novos estádios e por frondosas cotas de TV. Com isso, tornou-se um case de sucesso para o mundo, mas afastou parte do público tradicional e, como define o jornalista e escritor inglês radicado na Espanha John Carlin, “aburguesou-se”.


Tim Vickery, jornalista esportivo e correspondente da BBC no Brasil, frequentou os antigos estádios ingleses, ainda com preços populares, arquibancadas sem cadeiras e torcedores amontoados feito gado nos jogos mais importantes. O novo paradigma, diz Vickery, conseguiu conter a violência, pelo menos nos estádios. Mas, com preços inflacionados, acabou por renegar uma massa de torcedores tradicionais. O outro lado da moeda foi que mulheres, crianças e imigrantes de outras etnias, antes repelidos pelos arruaceiros mais sectários, ganharam acesso aos estádios: 

— Houve exclusão, porém a inclusão de novos grupos foi maior e mais importante — aponta Vickery. — Só que o Brasil vive outra realidade, não pode copiar a Inglaterra. Aqui não há minorias étnicas proibidas de ir ao estádio. Muita gente poderá ser excluída pelos preços nesse processo, sem muitos ganhos em contrapartida.
 

O preço dos ingressos nas futuras arenas como o novo Maracanã e o Itaquerão ainda não foi definido, mas Vickery acredita que um aumento seria um erro estratégico no Brasil, uma vez que já vem sendo difícil encher estádios com os preços atuais. Em 2011, a média de público do Campeonato Brasileiro foi de 14.976 torcedores, enquanto a da Major League Soccer norte-americana, por exemplo, foi de 17.870 pagantes.
 

— Uma solução interessante seria fixar preços mais baixos para o ingresso e ganhar em cima de comida e bebida — sugere.
 

Caso o cronograma da obra se confirme, o novo Maracanã abrirá os ainda majestosos portões no dia 28 de fevereiro de 2013. Com capacidade reduzida para 79 mil lugares, poltronas de cinema, novos camarotes, áreas VIP (e até mesmo VVIP), será um estádio distinto de seu antecessor, do qual ostentará apenas a carcaça, como reza a cartilha do retrofit arquitetônico. Aquele que já foi “o maior estádio do mundo”, erigido sob o signo da grandiosidade nacional e da união das massas sublimada pela catarse futebolística, cederá lugar à moderna arena de espetáculo, com maior conforto, segurança e infraestrutura, telões de última geração e lojas em espaços anexos.


Estádios para poucos, pay per view para cada vez mais espectadores e TV aberta para a massa: será essa a nova lógica do espetáculo futebolístico? Autor de “Passes e impasses: futebol e cultura de massa no Brasil” (Vozes) e professor do departamento de Comunicação da Uerj, Ronaldo Helal aponta o crescimento do público espectador nos bares, mas acredita que há um contingente de torcedores, em parte oriundos da nova classe média, dispostos a pagar um pouco mais por um estádio mais sofisticado: 

— O torcedor paga mais caro se o estádio é arrumado. É preciso ter preços mais populares, sim, mas as pessoas estão com mais dinheiro também — acredita Helal.
 

Autor de “Veneno remédio: o futebol e o Brasil” (Companhia das Letras), José Miguel Wisnik evoca o fantasma do “geraldino” — torcedor popular da extinta geral do Maracanã — para ilustrar uma transformação no conceito dos estádios.
 

— Em “Garrincha, alegria do povo”, de Joaquim Pedro de Andrade, os protagonistas do filme são Garrincha e o povo, unidos no Maracanã. O torcedor da geral é a cara de uma era do Brasil que já terminou. A reformulação estrutural do estádio arremata esse processo, que já vem se dando faz tempo, no mundo, com a substituição do estádio caldeirão social pelo estádio de facilidades ao consumidor.
 

Bernardo Buarque acredita que, mesmo em arenas projetadas para outro modelo de espetáculo, é possível reviver e reinventar a vibração e a alegria que marcaram as arquibancadas do país:
 

— Por mais que seja constatada a tendência a elitizar, a atomizar e a individualizar a experiência de torcer nos estádios, é sempre possível subverter, recriar e carnavalizar as formas estandardizadas — diz Buarque.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Romário chuta o balde


Trechos do discurso do deputado Romário, agora há pouco, na Câmara dos Deputados:
“Com a mesma frustração da maioria dos torcedores, vi a nossa seleção masculina de futebol tropeçar diante do México na final e conquistar uma prata de sabor amargo.
Eu já disse e repito: é preciso mudar muita coisa nesse time, a começar pelo técnico, e iniciar desde já um trabalho sério de planejamento, para que o Brasil possa pelo menos ter uma atuação digna na Copa de 2014 e fazer jus à sua condição de país-sede e pentacampeão mundial.
Do jeito que está, dificilmente iremos longe, apesar de o time contar com bons jogadores e até mesmo com dois ou três craques.”
“Achei muito interessante ver que a Prefeitura de Londres, ciente de que os Jogos são um evento passageiro, evitou a construção de elefantes brancos, de orçamento milionário. O entendimento dos britânicos parece ser o de que dinheiro público não deve ser esbanjado, coisa em que já teríamos de estar pensando aqui no Brasil desde muito tempo atrás.”
“Assim, foram construídas arenas provisórias para receber algumas competições. Além disso, foram adaptados prédios já existentes e outros foram construídos com o intuito de serem reaproveitados depois das Olimpíadas. Não foi erguida nenhuma arena para 70 mil pessoas, como no Brasil. Pelo contrário, o estádio olímpico de Londres teve sua capacidade reduzida de 80 mil para 25 mil espectadores, tornando-se mais viável dessa forma.
Ouvi de alguns gestores que a aposta do governo local era que o legado olímpico iria favorecer as regiões mais pobres da cidade, com a geração de empregos, a adequação dos equipamentos, a valorização da área como um todo. Ou seja, o evento estaria sendo usado não apenas para promover o esporte e incrementar o turismo, mas também para reduzir as desigualdades sociais.
Fiquei também muito impr essionado com a mobilidade urbana. Esse é um tema que preocupa milhares de brasileiros, em todas as nossas grandes cidades. Mas, lamentavelmente, pelo andar da carruagem, parece que não temos esse benefício social.”
“Quero destacar, além disso, que os britânicos, este ano, saltaram para o terceiro lugar no quadro de medalhas, ficando bem acima do Brasil.
Em Atlanta, em 1996, o Reino Unido terminou em trigésimo sexto, com apenas um ouro e 11 posições abaixo do Brasil.
Acho que eles não receberam ajuda apenas de Papai do Céu, mas também souberam trabalhar com planejamento, com investimento e sem desperdiçar verba pública, coisa que aqui, infelizmente, não acontece.”
“O Comitê Olímpico Brasileiro, o COB, recebeu, nos últimos 4 anos, quase 1 bilhão de reais do Ministério do Esporte e das Loterias Federais e repassou muito pouco ao Comitê Paraolímpico. Mas, mesmo com poucos recursos, o trabalho que está sendo realizado impressiona pela seriedade e pelos resultados que têm sido alcançados. O Brasil já conquistou medalhas na natação, no atletismo, na bocha, no judô e segue avançando em esportes como o futebol, o vôlei sentado e outros. São, até o momento, 25 medalhas, 12, de ouro, que deixam o Brasil em 8º lugar no quadro de medalhas.
Essas conquistas devem ser motivo de orgulho de todos nós e devem servir de e xemplo para o Comitê Olímpico Brasileiro, o COB, que já passou da hora de deixar de ser amador. Espero, aliás, que o COB saiba usar de maneira correta os recursos que receberá nos próximos 4 anos, que com certeza passarão de 1 bilhão de reais, e não nos faça passar vergonha nas Olimpíadas do nosso País.”
“Para finalizar, gostaria de aproveitar a oportunidade e pedir à nossa Presidenta Dilma, ao nosso Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, não que façam uma intervenção, mas que comecem a fiscalizar de uma forma mais direta e mais concreta entidades essas como CBF e COB, porque nós agora estamos próximos de grandes eventos.
Vem aí a Copa das Confederações, no ano que vem; 2014, a Copa do Mundo; e 2016, as Olimpíadas. ”
“Pelo que eu vejo, se continuar acontecendo no nosso País o que vimos acompanhando no dia a dia, principalmente em relação ao futebol, essa máfia que tem hoje na CBF… Espero que o Presidente não participe mais de convocações — muitos, ali dentro da CBF, estão levando dinheiro para isso — e não prejudique a atuação do Brasil na próxima Copa do Mundo, de 2014, que é uma grande oportunidade de nós darmos o troco de 1950.”
“Em relação ao COB, todos nós sabemos que as pessoas que estão no COB já estão há mais de 20 anos. Se não houver fiscalização, por parte da nossa Presidenta ou por parte de algum órgão do nosso Governo Federal, eu infelizmente posso aqui afirmar que nós vamos passar uma grande vergonha nas Olimpíadas de 2016.”
20120906-200442.jpg
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Colaboração de Gustavo Pereira