quarta-feira, 29 de maio de 2013

Apagão de talentos


Com a sequência de grandes eventos no Brasil, a área da gestão e marketing esportivo  está aquecida em função das altas demandas que os bons negócios e oportunidades impõem.  Muitos profissionais são requisitados, mas esta busca não tem sido tão fácil assim. O tema já foi levantado por alguns especialistas e reforçado ainda mais por outros em palestras e entrevistas, como meu grande amigo, Georgios Hatzidakis, que sempre declara que passamos por um apagão de talentos.
Se olharmos no site do Rio 2016, por exemplo, em especial no link, Entre para o Time, só nesta semana, há mais de 30 vagas em aberto. Analisando o Job Description dá para entender porque o Georgios e tantos outros profissionais têm razão. A vaga para o cargo de Coordenador Regional de Operações, na Barra, por exemplo, busca um profissional que coordene a operação nas instalações de competição e não competição dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Rio 2016, buscando a integração no planejamento, desenvolvimento e execução, assegurando o alinhamento de entre todas as áreas funcionais, operando as instalações e executando os planos integrados dos Jogos. Com mais de uma dezena de responsabilidades, o cargo ainda requer um gestor que tenha preferencialmente trabalhado em Jogos Olímpicos ou em um grande evento, com expertise em gestão de eventos e instalações; planejamento ou liderança em funções operacionais, como logística, serviços dos jogos, esportes, comando e controle e desenvolvimento de instalações. Deve ter conhecimento no pacote MS Office, processamento de texto, planilhas, banco de dados, gestão de projetos, CAD, colaboração/gerenciamento de conteúdo, publicação de layout, design gráfico e outras aplicações, sem falar no inglês fluente.
Sem dúvida alguma, para quem tem aspiração a trabalhar nos Jogos Olímpicos, deve ter todos estes pré-requisitos. Mas o que chama a atenção é que estes profissionais não surgem tão facilmente. O Conselho Regional de Administração de São Paulo, através do Grupo de Excelência de Administração Esportiva, realizou, anos atrás, um estudo onde apontava o perfil ideal para o administrador de esportes. Ainda que tenha sido realizado há quase uma década, ele ainda é atual e deveria ser observado por todos que desejam trilhar por este campo.
No estudo, o grupo apontou que áreas de conhecimento deveriam ser pré-requisitos a este tipo de profissional. Assim, destacou Planejamento Estratégico, Negociação, Gestão e Marketing Esportivo, Finanças/Controladoria, Motivação/Recursos Humanos, Direito Esportivo, Ética Empresarial, Gestão de Qualidade, Teoria das Organizações, Psicologia/ Sociologia do Esporte, Medicina e Treinamento Desportivo, Tecnologia no Esporte, Introdução, História e Evolução do Esporte e Fluxo das Informações.  Importante reforçar que, neste caso, remetemo-nos exclusivamente ao administrador de esportes.
Pergunto-me, quantos estudos têm sido feitos, nos últimos anos, em todas as áreas que convergem para esta indústria? Mais do que isso, quantas instituições de ensino superior têm dado a devida atenção às nuances do esporte? A graduação é o pontapé inicial para a escolha e especialização da carreira. Assim, esporte, enquanto negócio, está bem longe de ser exclusivo da Educação Física, que provê o conhecimento técnico, mas não amplifica todos os conteúdos necessários para a sua gestão.
Quase toda esta responsabilidade cabe à pós-graduação. Todavia, nos primeiros passos da vida acadêmica, seja qual for a área do conhecimento, perde-se a  grande oportunidade de acender uma pequena tocha para iluminar o caminho do esporte. Potenciais talentos ficam às cegas, muito longe da luz no fim do túnel.
Talvez esteja aí, uma das justificativas para tanto apagão.

Deborah Palma

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