sexta-feira, 25 de outubro de 2013

As construtoras brasileiras sabem operar arenas esportivas ?

Revista Exame

Sim eu sei. A operação das novas arenas brasileiras é recente. Mas assusta a quantidade de erros, e o grau de experimentação.
Outro ponto comum é a insatisfação de quase todos os clubes utilizadores.   Tenho lido alguns colegas referirem-se ao fato das partes possuirem objetivos distintos. Não creio.
Um consórcio construtor investe em uma arena esportiva para ganhar dinheiro. Um clube constroi uma, ou se associa a quem possa construí-la, igualmente para alavancar suas receitas, ou seja, ganhar dinheiro. Então o objetivo principal é comum. Discordantes podem ser as estratégias utilizadas pelo operador face à determinadas expectativas do utilizador, mas os objetivos são os mesmos, caso contrário, entreguemos o caso aos psicanalistas.
O Cruzeiro tem reclamado dos preços na parte central, e do contrato com a Minas Arena. A organização também tem sofrido críticas (mas ainda ???), e até hino do Atlético andaram tocando. O consórcio operador do Maracanã sofre críticas em relação à precificação, à venda de ingressos (e incompatibilidade com os programas de sócios), aos preços dos produtos vendidos nos bares, da ausência de rede wi fi (importante para viabilizar novas tecnologias com apelo comercial),  e até a certas ações internas “aculturadas” que não tem agradado aos usuários.   
Já o Grêmio tem reclamado das cláusulas do contrato com a OAS ( já até conseguiu modificá-lo), e recentemente também da estratégia de precificação adotada. A alegação é de que a arena não está enchendo. De fato, em 13 jogos do Brasileiro como mandante, o clube possui média de 22 mil pagantes (que não fica distante de médias históricas, mas “baixa” perante as expectativas depositadas no novo equipamento). O ticket médio está em R$ 37, que se não é “baratinho” está longe de ser uma “fortuna”. Mas o dado que me chama a atenção, e por isso seria interessante uma reflexão do clube, é que desses 22 mil pagantes em média, 65% (2/3), cerca de 14 mil, são sócios, e pagam R$ 20 (que é “barato”).  Ora, mas se o Grêmio possui mais de 70 mil sócios torcedores, por que o clube consegue atrair apenas 14 mil por jogo (pagando R$ 20 !!!) ? Será que o problema é só o preço ? É óbvio que não.  Fica claro que o espetáculo não está conseguindo atrair o torcedor, especialmente o sócio torcedor, a ponto de tirá-lo do sofá.
Porém de uma forma geral, verificando a diversidade de assuntos reclamados, fica evidente que as construtoras possuem pouquíssimos profissionais com experiência nesse assunto. Que estão fazendo dessas arenas, pelo menos nesses primeiros meses de operação, um grande laboratório, usando estratégias equivocadas de tentativa e êrro em demasia, e os clubes estão sendo as cobaias. Em suma, estão colocando Boeings nas mãos de quem só pilotou ultra-leve, ou nem isso.
Construir e, principalmente, tornar um shopping center lucrativo, é uma coisa. Operar e ganhar dinheiro com uma arena esportiva é outra bem diferente, até porque os consumidores são totalmente distintos (apesar de, em tese, serem ambos “projetos imobiliários”). E quem é do ramo, e conhece o comportamento de um torcedor apaixonado, sabe do que estou falando.
PS: A despeito de muitas mensagens recebidas por mail, informo que os R$ 20 citados, são aqueles “contabilizados” no borderô, não significando que seja esse o valor pago de fato pelos sócios-torcedores em seus planos de origem.

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